Notícias de outras ilhas: Djami Sezostre
Djami Sezostre em Ecoperformance (Foto: Mário Pizzi)
Djami Sezostre, Rio Paranaíba, Minas Gerais, Brasil, descendente de indígenas, egípcios e portugueses. Autor, por exemplo, dos livros: Zut (Crivo Editorial/2016), Cavalo & catarse (Editora Penalux/2016), O pênis do Espírito Santo (Editora Patuá/2018), Cão raiva (Kotter Editorial/2019), Óbvio oblongo (Editora Laranja Original/2019). Poesia traduzida ao inglês, espanhol, francês, italiano, alemão, finlandês, grego, búlgaro, húngaro, com livros publicados em Portugal, na Argentina, na República Dominicana, e na Finlândia.
Ensaísta, viveu na África, onde pesquisou poetas e poéticas de línguas originais e portuguesas, publicou Portuguesia (Anome Livros/2009), contraantologia em livro/DVD com 101 poetas de Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Brasil. Poeta e performer, criador da Poesia Biossonora e da Ecoperformance, com espetáculos apresentados nas Américas, Europa e África.
Para a seção “Notícias de outras ilhas” – em que poetas, escritores e tradutores sugerem leituras para o período da quarentena – indica poemas de Fernando Aguiar, José Luís Peixoto e Luiz Edmundo Alves. A curadoria da seção é de Tarso de Melo.
***
Problemática da dificuldade
Fernando Aguiar
está difícil. está muito difícil.
está mesmo muito difícil. es
tá realmente mesmo muito
difícil. não há dúvida que est
á realmente mesmo muito di
fícil.
está difícil. está muito difícil.
está muito mais difícil, está
mesmo muito mais difícil. es
tá realmente mesmo muito m
ais difícil. não há dúvida que
está realmente mesmo muito
mais difícil.
está difícil. está muito difícil.
está ainda mais difícil. está a
inda muito mais difícil. está
mesmo ainda muito mais dif
ícil. está realmente mesmo ai
nda muito mais difícil. não h
á dúvida que está realmente
mesmo ainda muito mais dif
ícil.
está difícil. está muito difícil.
está cada vez mais difícil. est
á cada vez ainda muito mais
difícil. está mesmo cada vez
ainda muito mais difícil. está
realmente mesmo cada vez a
inda muito mais difícil. não h
á dúvida que está realmente
mesmo cada vez ainda muito
mais difícil.
para quem julga que estou a e
xagerar, não digo apenas que
não há dúvida que está realme
nte mesmo cada vez ainda mu
ito mais difícil. nem que está d
ificílimo. está dificilíssimo!
***
Na hora de pôr a mesa
José Luís Peixoto
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
***
Poemeto ecológico para a Amazônia
Luiz Edmundo Alves
xapuri uru-eu-wau-wau javari kaiapós
raoni mundurucu kanamari jaborandi
purus solimões negro japurã tocantins
tapajós aripuanã guaporé nambikwara
chico amazônico seringueiro mendes
cassiterita manganês ouro bauxita
serra do navio ariquemes brumadinho
carajás humaitá pitinga ji-paraná
chico. amazônico. seringueiro.
mendes.