Só a morte diz a verdade

Só a morte diz a verdade
O poeta chileno Nicanor Parra, autor de 'Só para maiores de cem anos' (Foto: Ilonka Csilag/Biblioteca Nacional do Chile)
  Em 1954, o físico e matemático chileno Nicanor Parra (1914-2018) promoveu, com um livro pequeno mas explosivo, uma Revolução Francesa particular e mandou todos os poetas anteriores a uma guilhotina conceitual. À frente de seus condenados, estava a trinca sagrada do país andino Pablo Neruda, Vicente Huidobro e Pablo de Rokha, além da matriarca Gabriela Mistral. A nata da antiga vanguarda, que fazia uma “poesia de óculos escuros e chapéus de aba larga”. “Segundo os doutores da lei este livro não deveria ser publicado / (...) /E eu decidi declarar guerra aos cavalieri de la luna” O livro em questão é Poemas e antipoemas, plataforma para inovadoras execuções verbais em público, talvez o mais importante da poesia latino-americana no século 20. Anarquista e irônico, Parra coloca o próprio pescoço sob a lâmina – a morte (esse “hábito coletivo”) e o humor (“o saber e o riso se confundem”) são constantes em seus versos coloquiais, contraditórios, de forte personalidade, independentes de qualquer escola ou estilo. “só a morte diz a verdade / a poesia mesmo não convence” Seu alvo é a pomposidade, a pose, o beletrismo, a inspiração romântica, as metáforas artificiais, os adornos inúteis, a vaidosa metafísica. Descabelado, de olhar intenso, maxilar quadrado, “boca de ídolo asteca”, tinha como objetivo buscar nas coisas simples a verdade. Era um autêntico, um provocador – por vezes um amável terrorista. “Durante meio século / A poesia foi / O paraíso do bobo solene / Até que cheguei eu / E me in

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