Notícias de outras ilhas: Lorena Martins

Notícias de outras ilhas: Lorena Martins
A poeta Lorena Martins (Foto: Arquivo pessoal)

 

Lorena Martins nasceu em Dom Pedrito-RS (1982) e cresceu em Porto Alegre, onde se graduou em Letras pela UFRGS. É autora dos livros de poemas água para viagem (2011) e corpo continente (2019), ambos editados pela 7Letras. Teve poemas publicados em revistas e antologias. É pós-graduada em Gestão e Políticas Culturais pela Universidade de Girona/UNESCO. Atualmente vive na Estônia.

Para a seção “Notícias de outras ilhas” – em que poetas, escritores e tradutores sugerem leituras para o período da quarentena –, indica poemas de Filipa Leal, Alejandra Pizarnik e Ana Cristina CesarA curadoria é de Tarso de Melo. Leia os poemas e o comentário da poeta abaixo.

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Reler tem sido o meu refúgio nesta quarentena. A releitura de um livro fundamental nos leva a um lugar familiar, de afeto – um verdadeiro porto seguro quando nos sentimos isolados e fragilizados, sobretudo quando (des)governados por um psicopata. A releitura permite a ressignificação; olhar com outros olhos para o mesmo lugar, apreender de outra forma um mundo já conhecido e visitado – como o corpo, a casa, a cidade. Como será o “novo normal”? Não sei. Mas é, sem dúvida, um nome horrível para aquilo que nos aguarda. Além das poetas escolhidas, tenho relido a poesia de Ferreira Gullar; As  pequenas virtudes, de Natalia Ginzburg; As Flores do mal, de Baudelaire. Adoraria reler Dostoiévski – Crime e Castigo cai como uma luva neste momento histórico, como bem lembrou Fernando Barros e Silva na edição de maio da revista piauí – mas, como tenho dois filhos pequenos quarentenados comigo, deixei para depois do apocalipse.

 

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O princípio da oração

Filipa Leal

Senhor, enche o meu quarto
de alto mar.

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Moradas

Alejandra Pizarnik

a Théodore Fraenkel

Na mão crispada de um morto,
na memória de um louco,
na tristeza de uma criança,
na mão que busca o copo,
no copo inalcançável,
na sede de sempre.

(trad. Everardo Norões)

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olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Ana Cristina Cesar


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