Winnicott, entre o si-mesmo e o encontro 
com o outro

Winnicott, entre o si-mesmo e o encontro 
com o outro
(Foto: Lotte Meitner-Graf/Cortesia de Winnicott Trust/ Wellcome Collection)
  Apresentar uma visão resumida ou destacar uma faceta específica sobre o pensamento de Winnicott é sempre um desafio. Neste recorte, optei por enfocar uma dimensão que considero essencial de seu pensamento: o interjogo entre a singularidade e o encontro com o outro humano. Isto nos conduz diretamente ao seu conceito de self. Pensemos, então, em termos destes dois polos, em um interjogo contínuo. No polo da singularidade, encontra-se a noção fundamental do si-mesmo, que expressa o que há de mais pessoal e íntimo em cada um de nós, e que nos diferencia e especifica – uma espécie de impressão digital do Ser. Justamente por ser tão essencial e delicado, o núcleo do self permanece oculto e incomunicável; mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, ele também anseia por ser buscado e encontrado, em um verdadeiro jogo de esconde-esconde. No outro polo, temos o encontro humano (meeting): é somente com a participação ativa de um outro humano que se tornam possíveis os processos de integração, personalização e realização que são a base para a constituição do Eu, e é através dele que se dá a experiência primária de onipotência e a dialética da ilusão-desilusão, construindo-se assim a ponte entre o si-mesmo e a experiência com a realidade. Ora, segundo essa lógica paradoxal, é justamente a partir da experiência fundante do “estar com” que se desenvolve a capacidade igualmente fundamental de “estar só”. O desafio maior é: como conservar o senso de si mesmo e a capacidade criativa e ao mesmo tempo usufruir da experiência de

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