Olhares remotos: os 80 anos da morte de Walter Benjamin
Walter Benjamin em 1928 (Foto: Domínio Público)
A especificidade da experiência dialética
consiste em dissipar a aparência
do sempre-igual
– e mesmo da repetição
– na história.
Walter Benjamin, Passagens
O vigor conspícuo dos escritos de Walter Benjamin teve sua mais recente prova nas incontáveis homenagens feitas em razão dos oitenta anos de sua morte. Sem deixar de reconhecer visíveis aproximações entre impasses do presente e os escritos benjaminianos, Paulo Arantes enfatizou, na jornada “80 anos da morte de Walter Benjamin”, o que aparta o filósofo berlinense de nossos atuais dramas apocalípticos.
Não caberá aqui tratar das múltiplas semelhanças e diferenças alinhavadas pelo filósofo brasileiro naquela ocasião. Salto para outro quadro daquele evento. Só após expô-lo, caberá recuperar os passos dados por Paulo Arantes e seguir explicitando alguns outros descompassos entre Benjamin e os dias de hoje. Sob a batuta de Carla Damião, leitores e amantes do filósofo judeu-berlinense dispuseram-se para formar vários mosaicos; nas pequenas lâminas quadriculadas, ordenadas nas telas de computador, cumpriu a cada um enunciar uma singela citação da obra benjaminiana. Frases e trechos selecionados previamente compuseram a montagem e as gravações.
Com o anseio de estar à altura da ideia, dediquei-me logo à difícil demanda de eleger uma ínfima parte da vastíssima obra de Benjamin para o belo arranjo. Na busca desenfreada, vi-me um pouco perdida em meio à densa floresta de textos do filósofo. O critério de separar passagens que mais me marcaram não pareceu o melhor para a natureza da proposta. Considerei que a citação deveria tocar especialmente o desconhecido espectador.
Foi assim que, enquanto perambulava desgovernada por entre a infinidade de letras benjaminianas em busca da frase decisiva, assumi, com certa audácia mas por razões meramente defensivas, um método mais descompromissado: conceder autonomia aos meus olhos e deixar que, naquela circunstância específica, eles decidissem. Entre todas as passagens lidas, duas fisgaram-lhes naqueles instantes de leitura:
“As citações são no meu trabalho como salteadores à beira da estrada, que irrompem armados e retiram ao ocioso caminhante a sua convicção. “(em “Quinquilharia”, Rua de mão única).
“Transformar a ameaça de futuro num agora realizado, o único milagre telepático desejável, é obra de uma presença de espírito que passa pelo corpo.” (em “Madame Ariane, segundo pátio à esquerda”, Infância berlinense: 1900)
A montagem em ziguezagues e os mosaicos
O prefácio de “Origem do drama barroco alemão” (1925) introduz uma epistemologia da descontinuidade. Justaposições de citações e fragmentos escritos compõem a trama do texto. Lacunas remanescentes entre os pontos descontínuos da costura exigem trabalho do leitor. Nesse irregular vai e vem do alinhave, elementos do passado conectam-se aos do presente numa ordem anacrônica. Pedaços de fazenda são atados por tensos nós. Neles, imagens bordadas carregam semelhanças e diferenças. Embora sobrepostos, os quadros imagéticos são díspares. Afinidades e correspondências os conectam, ainda que entre as aplicações impere uma incontornável distância espaço-temporal. O atrito causado pela brusca junção de elementos longínquos promove uma hirta tensão dialética. Com ela, desafia-se qualquer espécie de enredamento linear pelo correr progressivo do tempo.
Em Walter Benjamin, a estética formalmente descontínua dos textos assume uma fisionomia próxima a das constelações. Cada brilho isolado de um ponto luminoso reflete-se em outro, e mais outro, e mais outro, sem que isso signifique uma sequência sucessiva. Constelações desenham-se como figuras específicas graças aos hiatos entre as estrelas. São eles a apelarem pelo alinhave configurador como fazem as ideias quando exigem dos conceitos uma costura capaz de lhes dar forma.
No seminal prefácio, Walter Benjamin persegue sobretudo a estrutura formal dos escritos filosóficos. Com tal problemática em vista, o filósofo caracteriza a lei capaz de apresentar sua verdade imanente. Nada que seja um molde externo, acoplado artificialmente ao próprio movimento da verdade, poderia servir aos intentos filosóficos. Seu percurso é indireto. Dá-se a partir de um pensar que recobra incessantemente seu início, voltando-se aos detalhes inerentes à própria coisa. Insuflar de oxigênio o que parecia estar inerte reflete um método que se mantém rente à matéria dos objetos estudados. Revigorar o ritmo de seus movimentos próprios é uma das principais tarefas filosóficas.
Nas ondas irregulares que conduzem
o pensamento, o filósofo não teme
perder-se num vagar sem rumo.
Deixa-se levar pelas minúcias que
se conectam lentamente até que a
articulação dos detalhes engendre
alguma integralidade.
Sem exasperar-se em achar o todo antes de mergulhar nas partes, o texto filosófico é comparado por Benjamin ao “mosaico [que] não perde a sua majestade pelo fato de ser caprichosamente fragmentado”. Ainda mais precisamente: “o valor dos fragmentos de pensamento é tanto mais decisivo quanto menos imediata é a sua relação com a concepção de fundo, e desse valor depende o fulgor da representação, na mesma medida em que o do mosaico depende da qualidade da pasta de vidro”. (Benjamin, 1928/2011)
Deixar-se conduzir pelas qualidades inerentes aos pedaços, sem que uma imagem previamente concebida oriente os movimentos do filósofo, exigirá sempre o árduo trabalho de alinhave, de composição, de figuração que só poderá se dar a posteriori. Os pequenos laminados de vidro a comporem a unidade figurada de um mosaico mostram como o conteúdo de verdade (Wahrheitsgehalt) exige um movimento de suspensão nos pormenores de um conteúdo material (Sachgehalt).
Algo parecido sucede-se com afinidades eletivas entre intelectuais. Aquele que lê e escreve tropeça nas suas próprias ideias ao dedicar-se aos textos de autores pertencentes a outros lugares e épocas. O encontro se dá sobretudo nos rasgos da peça escrita. Mais especificamente: não é apenas a tessitura das linhas o que explicita atrações intelectuais. São as fissuras existentes entre o tracejado das letras a suspenderem a respiração do leitor. Os poros do texto interrompem o fluxo da leitura acomodada. Fazem palpitar o coração. São as lacunas, mais do que o corpo das letras, a convocarem o intelectual ao trabalho de escrita. Só do espanto entre correspondências inesperadas é que se produz uma abertura revolucionária no tempo, à qual Walter Benjamin denominou Jetztzeit.
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Voltemos às frases eleitas para compor os mosaicos de citações, organizados por Carla Damião. Numa reconstituição a posteriori, clarificam-se os motivos pelos quais foram essas e não outras as frases a capturarem meus olhos. Em termos diretos: a escolha não poderia ter sido outra. Essa é a afirmação que a justifica. Sempre haverá, porém, aquela espécie de pensamento condenatório: tão casual e inconsequente seleção, bem poderia ter se dado de outra forma. Com mais empenho, com cautela diligente, a escolha teria sido diferente. Talvez muito melhor e mais criteriosa.
Contra argumentos que defendem passos titubeantes e pensamentos ruminantes, só há a insuficiente justificativa tautológica: insistir mais uma vez que eram essas as únicas partes que poderiam ter sido escolhidas. É o que deve bastar. Foram elas simplesmente por terem sido elas, e não outras. Tão casual quanto a escolha das frases é o cruzamento de olhos entre futuros amantes. Nada do que se passa após um intenso e vibrante encontro de olhos existiria se minutos prévios tivessem transcorrido em alguma outra direção. A questão é que assim se deram os efêmeros átimos e, em sua brevidade, acendeu-se a chama para o desdobrar daquilo que se costuma chamar amor.
O segredo da escolha está, por conseguinte, na entrega que cada sujeito faz a alguns dos fugazes convites que chegam nos velozes envelopes do tempo, transfigurando o momento passageiro em sina inescapável. Em outras palavras: agarrar a fortuna antes que ela se esvaia para sempre é o que a transforma em desígnio. Prendê-la e dilatá-la até que seja possível mergulhar em todos os meandros da matéria daquilo que, por uma razão inexplicável, deteve o olhar. Agir antes que tudo morra atropelado pelo instante seguinte – este, aliás, é o imperativo do estrategista revolucionário.
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Em “Posto de gasolina”, uma das imagens transcritas em Rua de mão única, lê-se:
A construção da vida passa neste momento muito mais pela força dos fatos do que pelas convicções. Concretamente, de fatos que quase nunca e em lugar algum chegaram a transformar-se em fundamento de convicções. Em tais circunstâncias, a autêntica atividade literária não pode ter a pretensão de se desenvolver num âmbito estritamente literário – essa é antes a expressão habitual da sua esterilidade. Uma eficácia literária significativa só pode nascer de uma rigorosa alternância entre ação e escrita. Terá de cultivar e aperfeiçoar, no panfleto, na brochura, no artigo de jornal, no cartaz, aquelas formas despretensiosas que se ajustam melhor à sua influência sobre comunidades ativas do que o ambicioso gesto universal do livro. Só esta linguagem imediata se mostra capaz de responder ativamente às solicitações do momento. As opiniões estão para o gigantesco aparelho da vida social como o óleo para as máquinas: ninguém se aproxima de uma turbina e lhe verte óleo para cima. O que se faz é injetar algumas gotas em rebites e juntas escondidos que têm de se conhecer bem.
Nota-se que o significante convicção aparece tanto aqui como na frase selecionada para o evento: as citações são no meu trabalho como salteadores à beira da estrada, que irrompem armados e retiram ao ocioso caminhante a sua convicção. Se o tema das citações é recorrente em sua obra, o tom impetuoso desta passagem indica uma preocupação específica com o impacto e o efeito da produção literária nos leitores. Nela, citações convertem-se em arma contra desgastadas convicções ou acomodadas leituras. Num mundo em que tudo assume a forma equivalente da mercadoria, apostar que a força abrupta de algumas intrusas palavras ou que o arroubo por elas provocado seria capaz de sacudir os ociosos espíritos, enrijecidos por velhas convicções, devolve um gérmen de poder aos que ainda se movem rente às letras.
Com os pés fincados em seu presente,
Benjamin nota como os fatos se
sobressaem às convicções. Estas
sequer chegam a se consolidar. Não
haveria tempo para tanto.
Em meio à desenfreada enxurrada de notícias e eventos, “a autêntica atividade literária” não teria mais lugar. Insistir na forma moderna da literatura indicaria apenas sua “esterilidade”, ainda inconformada. Ação e escrita como elementos combinados poderiam devolver potência e vivacidade a uma determinada forma literária a ser expressa em panfletos, jornais ou cartazes. Nessa circulação menos pretenciosa, certa viscosidade das palavras imediatas poderia ser injetada no pensamento dos contumazes leitores de veículos informativos.
Entretanto, recuperar aqui o procedimento de observar a distância existente entre nossos dias e os de Benjamin, como fez Paulo Arantes, evoca as seguintes problemáticas: qual a forma literária ou filosófica capaz de enfrentar um sistema orientado pela lógica dos algoritmos? Fragmentos, citações, descontinuidades serão capazes, hoje, de perfurar convicções e sacudir o inerte espírito de leitores conformados? Esses métodos não foram, eles mesmos, cooptados pela engrenagem da mercadoria-informação? São essas as questões que precisariam ser avaliadas para observar se os procedimentos filosóficos e literários traçados por Benjamin e que visavam resistir à forma dominante, ou mesmo lutar contra ela, ainda sustentam o mesmo vigor que carregavam em sua época.
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Na segunda frase escolhida, certamente o significante corpo foi decisivo para interromper o veloz correr de meus olhos pelas linhas do papel. Vejamos a frase em meio a parcelas de seu contexto:
Quem consulta videntes sobre o futuro renuncia, sem o saber, a um saber íntimo do futuro que é mil vezes mais exato do que tudo o que aí lhe possam dizer. É levado mais pela indolência do que pela curiosidade, e nada se assemelha menos à dócil imbecilidade com que assiste à revelação do seu destino do que o gesto perigoso e fulminante com que aquele que é corajoso encosta o futuro à parede. É que a sua essência é a presença de espírito, a percepção exata daquilo que acontece neste segundo, mais decisiva do que saber de antemão o que ainda vem longe. Dia e noite, o nosso organismo é atravessado por sinais, intuições, pressentimentos, num movimento como o das ondas. […] antes que uma tal profecia ou premonição se transforme em qualquer coisa de mediato, palavra ou imagem, já a sua melhor força se terá desvanecido, aquela força com que tais sinais nos atingem bem no centro e nos obrigam, sem sabermos bem como, a agir de acordo com eles. Se o não fizermos, então, e só então, eles se decifram. Lemo-los, mas agora é tarde demais. […] não é impunemente que se trocam as intenções, que se entrega a vida por viver a cartas, espíritos e astros que a esgotam e gastam num instante, para nos devolvê-la profanada; não se subtrai impunemente ao corpo o seu poder de medir forças com os fados no seu próprio terreno, e de os vencer. O instante é a força caudina que obriga o destino a submeter-se-lhe. Transformar a ameaça de futuro num agora realizado, o único milagre telepático desejável, é obra de uma presença de espírito que passa pelo corpo.
O filósofo enfatiza aqui a coragem necessária para encostar o futuro à parede, apostando em singelos sinais que antecipariam a hora certa de agir. Alerta ainda para o caráter conformado inerente às consultas de astros e cartas. Eles acomodam os pequenos sinais que pressagiam o futuro em uma pronta configuração antecipatória. O consultor, que renunciou à interpretação dos tênues fiapos conjunturais, perdeu imediatamente a chance da ação certeira no tempo exato que a comportaria.
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Hoje, porém, mais do que a indolência de entregar aos videntes e cartomantes índices de futuro a serem decifrados ou mais do que a aposta na leitura de indícios que incita à coragem de agir, testemunhamos a captura total do mais leve prenúncio do porvir. Insipientes manifestações são logo decodificadas pelas máquinas e equações algorítmicas. Absorver leves sinais para o acúmulo de dados e informações é o que move o universo cibernético. Furos jornalísticos, ápice nos rodopios que movem o mercado da comunicação, revelam a mais fina habilidade na leitura dos minúsculos indícios. Eles serão rapidamente transfigurados em notícias informativas a serviço do consumo voraz. Intensos acontecimentos são convertidos em mais uma matéria a ser prontamente mastigada. Nessa engrenagem da informação, todos os eventos se equivalem.
Nas redes, regidas apenas pela quantidade de acessos e pela velocidade das informações, esvai-se o valor semântico de cada coisa vivida. Deixar-se conduzir pelo desejo que causa e revela afinidades eletivas entre intelectuais não é mais um trabalho de sensibilidade e atenção humanas. São as máquinas, mais uma vez, a depurarem o que aproxima uns de outros. Correspondências são calculadas, agora para unir interesses, estimular os mais audaciosos nichos de mercado, reunir núcleos de consumidores, engendrar novas mercadorias e ampliar as possibilidades de negócios.
O andar despreocupado e vagaroso do flâneur não será capaz de evitar as manobras de leitura de dados das máquinas. Todos os seres do globo estão codificados. Se o flâneur para distraído numa esquina para um café, digita seu CPF, dá um like para o atendimento na máquina de avaliação da loja, seu perfil já terá sido tipificado como uma espécie qualquer de consumidor e ele não mais poderá escapar pelas brechas do sistema capitalista. Será inserido em algum conjunto circunscrito por semelhanças capazes de formar novos gostos e novos produtos a serem ofertados no mercado.
Com os corpos quase inteiramente suprimidos nas telas, restando deles apenas seus avatares, o agir no instante preciso reduz-se, na maior parte dos casos, ao compartilhar de mais uma notícia. Com o singelo gesto multiplicado em milhares de usuários, incrementa-se os lucros de CEOs das plataformas de internet. A forma descontínua e fragmentária, que resistia aos obsoletos sistemas filosóficos e concebia-se como uma alternativa à literatura moderna dos romances, converteu-se em molde que organiza as plataformas digitais. Citações assumem, muitas vezes, as feições dos memes. Imagens dialéticas tornaram-se gifs.
Nada disso invalida a força dos escritos benjaminianos, que estavam marcados por outro espaço-tempo. Usando o método proposto por Benjamin de engendrar os aspectos formais das obras literárias e filosóficas a partir das próprias coisas estudadas, talvez hoje valesse o esforço de refletir detidamente sobre contornos capazes de estremecer os espíritos decodificados pelas máquinas; em formas que pudessem conceder curvas imprevisíveis aos códigos de barras, que penetrassem nos veios das máquinas para embaralhar sua ordenação mercantil, que fizessem explodir as equações que visam à lógica do consumo. Tudo isso exigiria conhecer o próprio idioma e as convenções das máquinas. Um desafio à espera daqueles que vivem em seu próprio tempo… e que aprenderam com Walter Benjamin que espera é um permanente estado de alerta pronto para explodir no ínfimo agora o continuum da história.
Portbou
Só aquelas nuvens
serão testemunhas.
Mas elas já terão se esvaído
para sempre
após o entardecer.
Sob suas sombras,
arrastam-se os passos.
É deveras suave o timbre:
cascalhos e terra
friccionados às solas de sapato.
O atrito
entre os ínfimos elementos
será corrosivo.
Ao ritmo das pegadas
sobrepõe-se a respiração,
ofegante.
Adensa-se o som
ao correr do relógio.
As gotas de suor
escorrem silenciosas.
Também são mudos
o fechar e o abrir das pálpebras.
Seja o que for:
nada é capaz de evitar
um estado de alerta.
O que está em jogo
é a sobrevivência
das últimas teses.
Cada folha,
uma labareda.
Dezoito no total.
Preservá-las todas
na pesada pasta de couro.
Eis a tarefa.
Carregar a maleta
a duras penas.
Suster o peso
pelo menos até o atravessar
da fronteira.
Num esforço sobre-humano.
O legado acima da vida.
Até o fim.
Oitenta anos nos separam daquelas cenas
Conta-se sempre
com o tênue fiapo
da sorte.
Espera-se boa-vontade
dos que estão de pé.
A cada suspiro urge a tarefa:
salvar
o que não pode deixar de existir.
Houve sorte
para alguns.
Houve boa-vontade
de poucos.
Seja como for:
sobrevivem as teses
de Walter Benjamin.
As chamas que delas emanavam,
incendeiam os pavios de hoje.
É tenaz o tilintar
do nome:
W A L T E R B E N J A M I N.
O espírito de sua letra
trepida mais do que nunca.
Alessandra Affortunati Martins é psicanalista e doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela USP. Autora de Sublimação e Unheimliche (Pearson, 2017), A abstração e o sensível: três ensaios sobre o Moisés de Freud (E-galáxia, 2020) e organizadora de Freud e o patriarcado (Hedra, 2020).