Walter Benjamin entre fronteiras

Walter Benjamin entre fronteiras
Dossiê rememora a vida de um intelectual entre fronteiras, propondo passagens que se originam do presente (Foto: Arte Revista Cult)
  Depois de uma longa caminhada pela cadeia montanhosa dos Pirineus, Walter Benjamin, que integrava um grupo de exilados guiado pela resistente Lisa Fittko, deparou-se com uma fronteira fechada. Impossível passar da França, então sob ameaça da ocupação alemã, para a Espanha, de onde ele pretendia embarcar para os Estados Unidos. O pensador, que era cardíaco e tinha então 48 anos, não resistiria àquela noite de angústia na cidade fronteiriça de Portbou. As circunstâncias exatas de seu falecimento e de seu enterro nunca foram elucidadas, mas é provável que tenha cometido suicídio, ingerindo medicamentos que trazia consigo, antes que a fronteira fosse reaberta no dia seguinte e permitisse a passagem de seus companheiros de viagem. Ocorrida em 1940, há 80 anos, essa trágica morte tem sido considerada emblemática da trajetória de muitos intelectuais judeus ante a perseguição nazista. Entretanto, é de uma triste atualidade. Benjamin morreu diante de um impasse, como tantos refugiados de hoje – e neste momento de pandemia as fronteiras se fecham ainda mais. Mas ele viveu cruzando fronteiras, inventando passagens. E não apenas porque esteve em vários países e se interessou por diversas culturas, tanto pelo gosto cosmopolita das viagens como pela necessidade do exílio. Como tradutor, ao trazer Charles Baudelaire e Marcel Proust para o alemão, cruzou fronteiras linguísticas na contramão das duas Grandes Guerras, que opuseram França e Alemanha. E com as traduções tematizou teoricamente a experiência de passagem entre línguas. Também

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