Privado: A voz inenfática de Ronald Polito
Foto: Tarcísio de Souza Lima
por Claudio Daniel
Ronald Polito é um poeta raro em nossa literatura, capaz de traduzir um “sentimento de mundo” de náusea, desconforto e aturdimento numa lírica de pequenos gestos, inenfática, antirretórica, próxima a um voluntário silêncio. Solo (1996), seu primeiro livro publicado, revela a delicada ironia do autor no próprio título do volume, que faz um trocadilho entre o espaço geográfico e a solidão, entendida como a sensação de deslocamento num ambiente onde impera “o sem sentido/ apelo do não”, como lemos na epígrafe de Carlos Drummond de Andrade. A negatividade é expressa em toda a sua dimensão de absurdo e perplexidade em uma notável composição intitulada “Suporte”: “São as aparências/ (nem todo mundo vê)/ (nem todo mundo fala)/ (escuta)/ (são as aparências)/ (passa uma incógnita)/ (está no ar)// (nunca estivemos aqui)”. Em oito linhas, num discurso fraturado, recortado, elíptico, o poeta comunica a sua incomunicabilidade, o desencontro com um outro não nomeado, evitando qualquer delimitação espacial ou temporal: o discurso é esvaziado ao mínimo possível de elementos, em reação a uma era em que impera o excessivo. Em outra peça do volume, Ronald Polito representa o desencanto cético numa fala truncada que recorda as frases enigmáticas de uma pitonisa romana: “(um pouco porque sem saída)/ passos quando não são pistas/ (talvez como o fôlego falte)/ janela aberta para o claustro/ // desapogeu.” Nesta composição, quase uma arte poética do autor, encontramos alguns de se
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