Valquíria, a brasileira

Valquíria, a brasileira
Figurino de Marcelo Marques para a montagem
Figurino de Marcelo Marques para a montagem

por Jaqueline Gutierres

A cena ficou famosa – e a música tornou-se, então, popular. “Cavalgada das Valquírias”, trilha de umas das passagens mais marcantes do filme Apocalypse Now (1979), faz parte da ópera A Valquíria, de Richard Wagner (1813-1883), que ganha montagem brasileira, sob regência de Luiz Fernando Malheiro e direção cênica de André Heller-Lopes.

“Pretendo oferecer uma montagem de nível internacional. Tecnicamente buscar uma estrutura de organização que permita ensaiar e produzir uma ópera de quase cinco horas da melhor forma. Não existem mais empecilhos para produzir nenhum título de ópera no Brasil, ao menos não em São Paulo”, declara Heller-Lopes, que já foi assistente de uma montagem de A Valquíria no Covent Garden, em Londres, em 2005.

Segunda parte da tetralogia épica O Anel de Nibelungo, de Richard Wagner, a obra é dividida em três atos. Para Heller-Lopes, a montagem da peça de Wagner é um desafio. “Uma obra tão emblemática, a parte popular da mais célebre saga de todo o repertório lírico, não teria como não ser difícil – e não é à toa que o termo ‘wagneriano’ virou sinônimo de gigante; o desafio é justamente fazer jus a esse gigantismo.”

Onde: Theatro Municipal –Pça. Ramos de Azevedo, s/n°, São Paulo (SP)
Quando: 17, 21, 23 e 25/11
Quanto: R$ 15 a R$ 70
Info.: (11) 3397-0327, www.teatromunicipal.sp.gov.br

Erudito brasileiro

O maestro Roberto Minczuk e o produtor musical João Marcello Bôscoli falam sobre os desafios das grandes óperas no Brasil

CULT – Por que grandes óperas internacionais ficam, geralmente, restritas a São Paulo e Rio de Janeiro?

Roberto Minczuk – Porque, além de terem um custo de produção maior, necessitam de espaço físico para ser apresentadas. Os teatros precisam de infraestrutura para receber espetáculos desse porte e os maiores teatros de ópera do país estão no Rio de Janeiro e em São Paulo.

João Marcello Bôscoli – Há um grande número de profissionais envolvidos e as apresentações são realizadas em salas construídas para isso, onde o número de ingressos disponíveis é insuficiente para fechar as contas. Nesse caso, como em vários outros, a presença dos patrocinadores é fundamental.

Parece não haver continuidade de grandes montagens no Brasil, apenas apresentações isoladas. A que se deve isso?

Minczuk – É fundamental que os incentivos fiscais sejam ampliados e haja mais envolvimento das empresas e pessoas físicas no fomento cultural das cidades. Por uma coincidência, os principais teatros do Cone Sul passaram por longas reformas. Imagino que em dois anos, no máximo, tenhamos temporadas mais regulares com um número maior de óperas sendo apresentadas por temporada.

Bôscoli – Existe a crença equivocada de ser algo direcionado a um pequeno público. Mesmo se fosse verdade, a formação de plateias é uma missão primordial. Toda vez que um show de música erudita foi aberto ao público brasileiro em praças e parques, o sucesso aconteceu.

(1) Comentário

  1. ÓPERA PARA TODOS: Sempre ouvia um amigo dizer, professor em melancolia, que a ópera era o ponto mais elevado no universo da música clássica. Então, poderia haver uma versão “pocket” para que elas não ficassem apenas restritas ao eixo Rio-São Paulo? Mas isso sem afetar a estrutura, sua linha de ação. E, pelo seu custo, muitos não têm acesso a elas. Talvez uma versão mais adequada a cada realidade, de cada cidade. Patrocinadores também são bem-vindos: agregar sua marca a um evento desse porte é uma boa opção, mesmo que não seja tão popular assim… mas por estes motivos mesmos não são tão populares. O “projeto aquarius” mostrou que o povo gosta de música clássica, basta ter uma oportunidade. Que as empresas se sensibilizem e que os projetos estejam mais próximos dos orçamentos dos patrocinadores, pois quem vai ganhar com isso é o povo, que terá acesso a uma cultura pouco usual, mas fundamental para uma visão universal de mundo…

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