Uma face da violência brasileira
Manifestação na região do Largo do Machado, zona do Rio, contra ações da PM nas favelas (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Por Felipe Roberto Martins
Antes de ler faça um minuto de silêncio pelos mortos recentes de Paraisópolis.
Eu não sei bem como iniciar o texto…
É um tema difícil e delicado, me lembrei da Chacina da Candelária.
Se pensarmos numa possibilidade de olhar sobre a “violência policial” podemos apontar para algo mais grave: o Brasil é muito violento – integralmente.
Violento contra pobres.
Violento contra negros.
Violento contra indígenas.
Violento contra mulheres.
Violento contra LGBTQIA+.
Ser um país violento não justifica as violências policiais. O que podemos sentir e viver é que a violência policial é uma face da violência maior brasileira.
Tanta violência quer dizer: faltam igualdades, equidades e oportunidades.
Não é possível resolver o problema do dia para a noite, é preciso encarar com seriedade, abrir debates profundamente humanos.
Atualmente, o Brasil não está aberto para qualquer debate, que dirá profundamente humano.
Vale lembrar do Caso Amarildo!
Tanta violência quer contar pra gente como tem abismo social no Brasil. E as pessoas daqui (pelo menos uma parte) fingem que não há abismos.
Comecei a escrever o texto coletando as manchetes sobre as polícias e suas violências, a coleta foi pequena e assustadora; é tradicional e quase costume a banalização quando se fala da “violência policial” e me remeteu a A banalidade do mal, de Hannah Arendt.
Por um olhar, a gente como brasileiro se acostumou com a violência policial e tantas outras.
Aceitamos com naturalidade, em algum momento, e isso se enraizou em nós. Está instalado no espírito no povo.
Que não se repita o Caso Amarildo.
Não podemos esquecer o Caso da Favela Naval.
De maneira geral, a polícia brasileira é mal paga, mal treinada e mal equipada. Não justifica, explica bastante, assim não pode-se esperar nenhuma melhora, é impossível.
Não podemos ter outro Massacre da Sé.
Pesquisei, pesquisei e pesquisei… não há planos profundos para a humanização da polícia brasileira.
O cenário é o pior possível. Parte da população quer armas, e estamos nas mãos de políticos em parte populistas. Quem ganha é a iniciativa privada, a indústria do medo.
O Massacre do Carandiru não pode ser esquecido.
O autoritarismo é estrutural em terras brasileiras.
…e que não se repita o Caso Rafael Braga…
Lembre-se de Vigário Geral.
Eu tenho 35 anos e acho que nunca verei o Brasil ser um país com menos violência policial… o que posso fazer é mudar no micro, acho que para começar com poesia, educação e arte; tudo o que é violento odeia elas…
Talvez seja o único caminho para a humanização.
A violência, policial ou não, odeia a Liberdade.
E nós somos a Liberdade.
Menos violência, menos violência policial é igual a mais poesia, mais educação, mais arte para todas, todos e todes. Mais liberdade.
Luana Barbosa dos Reis ainda clama por Justiça.
Felipe Roberto Martins, 35, é professor de língua portuguesa, literatura e comunicação profissional em Suzano, SP