Uma excelência sexual

Uma excelência sexual

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de junho de 2021 é “orgulho”


O que me orgulha em plena crise social? O país vai à ruína com a destruição de todo o muito pouco que foi construído ao longo de décadas pós-redemocratização. Muito pouco tido como insuficiente, mas de enorme falta agora que nem isso está sobrevivendo. A necessidade e o tempo da existência são relativos.

Orgulhar-se de quê? O orgulho existencial é sobrepujado pela angústia da inexistência, isso é fato. Diz-se que excelência está na origem etimológica da palavra. No Houaiss ela aparece na mesma página em que está o resto da definição de orgasmo. Seria a ligação entre os dois vocábulos? Ou apenas uma coincidência gráfica?

O mês aproveita para festejar orgulhos vários, incluindo o da diversidade afetiva e sexual. Antes com um rótulo restritivo a apenas um desses grupos, comemorava-se o orgulho gay. O orgulho LGBTQIA+ extrapolou o movimento libertador sexual para incluir não apenas letras, mas representações de muitos – e quiçá todos – oprimidos. Talvez corra o risco da apropriação cultural indevida, mas sigamos. A história diz o porquê da efeméride e volto-me à reflexão inicial da ausência de motivos para orgulhos.

Da excelência passa-se à resistência e essa única palavra – científica de múltiplas disciplinas, social de muitos movimentos – será a que significará, portanto, o orgulho original. Não será a oposição vernacular à humildade, mas a oposição à submissão. Orgulhemo-nos da resistência social, qualquer a cor que ela carregue.

 

 

Adilson Roberto Gonçalves, 54, é pesquisador da Unesp, membro
do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, da
Academia de Letras de Lorena e da Academia Campineira de
Letras e Artes.

 

 

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