Trágicos amantes e imperador
Passados dois anos muito difíceis para os profissionais das artes cênicas (e para todos os trabalhadores da cultura) – obrigados da noite para o dia, seja por pura necessidade de sobrevivência, seja pela obstinada capacidade de invenção e adaptação, a adentrar o terreno das tecnologias remotas de informação e comunicação e apresentar seus espetáculos por intermédio delas, fato que suscitou ainda inúmeras discussões a respeito de haver ou não corpos efetivamente presentes nos ambientes digitais –, a temporada de espetáculos de teatro, dança, circo, ópera e performance começa aos poucos a retomar seu ritmo, recuperando projetos de antes do início da pandemia ou propondo iniciativas inteiramente novas.
Ainda é preciso fazer um balanço mais aprofundado das inúmeras perdas que os setores da arte e da cultura sofreram em todas as esferas nesse biênio, mas, certamente, uma das mais significativas foi o fato de o silenciamento compulsório dos artistas da cena ter interrompido o processo de reação crítica à realidade sociopolítica em curso desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff – processo que, embora tenha gerado resultados artísticos irregulares, vinha dando provas de que ao teatro cabe sempre confrontar e nunca consentir, diferentemente do modo como estão agindo muitos segmentos sociais diante da barbárie. Se, por um lado, à arte não compete tratar especialmente da realidade circundante, sob o risco de perder sua configuração poética em essência; por outro, a arte pode, sim, ser invadida pelos efeitos do real e c
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