Tempo, me diga, me mova

Tempo, me diga, me mova
(Foto: Aimed Zaian/Unsplash)

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2020 é “tempo”


Estou sempre (te) procurando. Essa dança que insisto fazer à margem da arte, da existência, do que se acredita e do que se ama. Esse corpo-desabafo inquieto, de excessos e incertezas. Às vezes me pego perguntando por que o tempo-presente me alocou aqui, por entre as mídias sociais. Não estava em meus planos voltar a esse território. Esses dias tivemos uma briga por isso, eu e o Tempo. Mas daí ele, em seu ordenado caos, deu seu jeito – acho que tá sendo assim com você também no isolamento, não é? Os excessos, colisões, as muitas coisas a dizer, o ócio, o ódio, o luto. Todo dia. Também as alegrias, os vislumbres, as levezas, surpresas. As certezas.

Ele me fez revisitar cartas e escrever novas. Me fez afirmar o que eu já sabia. “Um amor que ultrapassa tudo isso?”, “um espaço em comum que nos deixa permanecer?”. Somos outros. Mudamos. Evoluímos. Seguimos… mudamos? Evoluímos? Seguimos? Em uma das cartas que lhe escrevi, descobri que “tempo” era o que nos separava. “Tempo” era o que nos unia. “Tempo” era o que eu deveria exterminar e seguir para novas formas de interpretar o Tempo. Porque nunca dizemos que “acabou”. Silenciamos, é bem diferente. Permaneço um diário expositivo, um caçador prolixo e hiperbólico de sombras e luzes, até que ele, o Tempo, me diga, me mova, me aloque para outra margem. Ou, até que se estabeleça habitação – viver de margem também cansa.

O que tenho é a certeza de querer viver um tempo-presente com você, em um lugar que eu possa, enfim, dizer: eu (ainda) te amo (mais [e para sempre]).

 

Arthur Barbosa, 32, é professor e artista em Teresópolis,
RJ. Durante o período de isolamento, criou o curta-metragem
experimental e o eBook kindle A/Temporalidade, um romance-
mosaico de fragmentos do que pode estar para além do tempo

 

 

Deixe o seu comentário

TV Cult