Sou uma mulher negra e a minha invisibilidade é real
(Pintura: Antônio Rafael Pinto Bandeira)
Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de março de 2020 é “racismo”
Quando falamos de invisibilidade abre-se um leque de conceitos e didáticas que podemos discutir, um delas é a solidão da mulher negra.
Precisamos entender que essa solidão não existe somente em relacionamentos afetivos. Essa invisibilidade vai desde a infância até a fase adulta. As mulheres negras são inferiorizadas na entrevista de emprego, quando não têm o perfil de uma mulher padronizada; na fila do hospital, quando são consideradas fortes o suficiente para aguentar mais dores que uma mulher branca; nos relacionamentos, quando são abandonas pelos seus parceiros e sofrem para cuidar de seus filhos sozinhas, se tornando mulheres exaustas e sobrecarregadas.
Ser uma mulher negra num país racista é ter que construir e reconstruir a sua autoestima dia a dia pela falta de representatividade nos meios de comunicação em massa; é ser sexualizada no Carnaval, num turismo sexual exacerbado e não receber uma rosa nos dias das mulheres. Sempre taxadas de “quentes” na cama pela sexualização da raça, despertando o desejo, mas nunca o amor e a paixão. É necessário ressaltar que somos a maioria nos índices de feminicídio, violência sexual, obstétrica e doméstica.
Sou uma mulher negra e a minha invisibilidade é real.
As opressões a serem enfrentadas por nós sobrepõe e vão além do racismo de combate. Essa exclusão também é institucional, o preconceito velado. Somos mais prejudicadas no campo financeiro e profissional.
Sabe-se que as mulheres negras são 25% da população brasileira, porém são minoria nas universidades. Se temos menos mulheres negras em universidades, logo, teremos menos mulheres bem sucedidas e em espaços de poder na sociedade. Por consequência, nós, mulheres negras, acabamos assumindo o protagonismo em cargos precários e inferiores, nos serviços domésticos, de limpeza e conservação.
A luta pelo fim do racismo exacerbado está na didática, ou seja, primeiramente na educação. Isto é, inserindo o letramento racial na sociedade (escolas, faculdades, teatro e nos meios de comunicação de massa), para que a população saiba da história do povo negro e a luta pelo fim do racismo, mostrando e fazendo entender o quanto isso nos adoece. Quanto mais pessoas envolvidas em um determinado assunto, mais cresce a possibilidade de obter divergências. Por isso precisamos debater com diálogos, somente assim iremos conseguir enfrentar esse problema social, político e moral. É o choro de mulheres negras mas também a luta diária a ser feita, dia após dia. Esse crime que parece ser invisível aos nossos olhos, está sempre presente no cotidiano do povo negro. O racismo existe, ele é material, temos que mudar essa esfera. Objetivamente a partir de nós.
Laiela Santos, escritora e militante do Movimento Feminista Negro