Sob o Sol de Satã
Em 1926, ano de publicação de Sob o Sol de Satã, Bernanos (1888-1948) era um desconhecido. Após ter lutado na Primeira Guerra, tornara-se pai de família e inspetor de uma companhia de seguros. Ele tampouco se considerava um escritor: “só de ver uma folha de papel em banco, a minha alma fica esgotada”. O fato é que seu romance de estreia surpreendeu e foi bem acolhido, como atestam os mais de 100 mil leitores conquistados naquele mesmo ano. Seria um rasteiro resumir o livro à simples história de uma jovem e de um padre atormentado pelo demônio. Afora o enredo, o romance é prenhe de digressões, as quais mimetizam destinos desolados e a uma atmosfera de trevas e alucinações.
Sob o Sol de Satã
Georges Bernanos
Trad.: Jorge de Lima
É Realizações
320 págs. – R$ 53
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O “DAIMON” DE BERNANOS: Escritor católico (no caso a sua escritura caminha por esse terreno), “Sob o sol de satã”, traduzido anteriormente no Brasil pelo poeta Jorge de Lima, trilha o caminho para uma espécie de redenção: mostrar os graves pecados dos personagens como forma de purificar o leitor, de transformá-lo (ainda se acreditava nesse poder da religião aliada à literatura). Como diz o texto, “Entretanto o demônio está… Está na oração do homem só, em seus jejuns e penitências, nos abismos de seus mais profundos êxtases, na calmaria de seu coração. É ele que envenena as águas lustrais ou arde na cera dos altares, mistura-se ao hálito das virgens, lacera com o cilício e a disciplina, corrompendo todos os caminhos […] Na verdade o ódio do inferno está reservado aos santos”. Esse “daimon” socrático que levamos conosco (o nosso pior inimigo e o melhor conselheiro, paradoxalmente) é mostrado como abismos por Bernanos, que nos conduz ao interior da alma… Numa viagem nem sempre “agradável”, diríamos. Com tintas fortes ele traça o que mais rude e sutil há no mundo: o “ser” humano.