Sob o couro do corpo e da palavra

Sob o couro do corpo e da palavra
  E quando acreditamos ter chegado ao paroxismo do horror, do sangue, das leis ultrajadas, da poesia enfim consagrada pela revolta, somos obrigados a ir ainda mais longe numa vertigem que nada pode deter Antonin Artaud, “O teatro e a peste”   No limiar da palavra em vertigem que nada pode deter, a literatura da chilena Diamela Eltit apreende uma sociedade atravessada e configurada por uma violência constitutiva do corpo social e individual: realidade do Chile marginalizado da autora, mas também de toda a América Latina. Tal o paroxismo do horror que a própria literatura é abalada em seus alicerces, a ponto de desintegrar-se no “imaterial”, quando a “veracidade da existência” já não é uma sólida garantia e a enunciação é comprometida por “palavras defeituosas”. No segundo romance de Eltit publicado no Brasil, Forças especiais (Relicário), acompanhamos a protagonista em seu cotidiano em blocos habitacionais ocupados por forças militares, que constantemente ameaçam a existência de seus moradores. O enredo centra-se nas idas da jovem protagonista a uma lan house, onde se prostitui, e em suas relações com o pai, a mãe, a irmã e os poucos amigos que lhe restam: Omar, Lucho, Pancho, Pepa – relações eivadas pela iminência de um desastre, pelos corpos fraturados e desfigurados pela violência policial, onde “tudo está por um fio” e vive-se no tempo crítico da “espera de um doente terminal com instantes de lucidez”. A desagregação da existência diante da brutalidade evidencia-se na configuração de um novo

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Novembro

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