Quem tem medo das transidentidades?
Edição do mês
Participantes da segunda edição da Marcha Trans e Travesti, no centro do Rio de Janeiro, em 2023 (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Ainda não amanheceu. Fulguram nos céus do nosso país recordes mundiais de assassinatos de pessoas LGBTQIAPN+. “Faz escuro, mas eu canto”, teimava o poeta Thiago de Mello. Ouvindo essa cantoria no horizonte, seguimos imantadas pela crença de uma luta em sua pluralidade, na medida em que muitos de nós vivemos, no mínimo, um incômodo, diante do crescimento do conservadorismo, sustentado por discursos que alimentam o pânico moral. A filósofa estadunidense Judith Butler nos conta, em Quem tem medo do gênero?, sobre a constituição do gênero como “fantasma”, uma fantasia psicossocial que substancializa medos e ansiedades, transformando-o em algo assombroso e temido. Ora, mas se os fantasmas são fabricações imaginárias, poderíamos “contraimaginá-los”? Seria possível nos movermos tal como nas memórias de infância, que trazem consigo um antigo desenho animado em que uma turma de jovens e um cachorro atrapalhado, transitando em um furgão colorido, desvendam casos misteriosos, demonstrando que fantasmas assustadores não passam de resultados de efeitos especiais, utilizados para afastar pessoas e impedir o entendimento de situações injustas? Talvez sim, mas, para que o “fantasma” seja desmascarado, da mesma forma como na animação, é fundamental um escrutínio da configuração do cenário armado que nos fez acreditar em sua existência.
Ao encontro da bambolina no fundo do palco, deparamos com o estatuto patriarcal enlaçado na fixação do binarismo de gênero, em seu caráter hierarquizante, consumindo vidas, impondo o discurso
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