Psicanálise, universidade e ciência
O anúncio da criação de um curso de graduação em psicanálise por uma universidade privada impôs aos psicanalistas uma manifestação pública, para tornar transparente à sociedade aspectos relacionados à complexidade inerente à formação do analista e de sua incompatibilidade com tal proposta. Com esse mesmo intuito, trazemos aqui alguns pontos cruciais para elucidar a impostura desse projeto, que desconsidera, sobretudo, a estrutura de base dessa formação e a história das relações mantidas entre a psicanálise, a ciência e a universidade.
As instituições que se dedicam à formação do psicanalista, uma vez orientadas pelo paradigma freudiano, são uníssonas quanto às condições que lhes servem de sustentáculo: a análise pessoal, a pesquisa teórica, a prática sob supervisão. As razões subjacentes à adoção desse tripé fundamental se enraízam na relação indissociável entre a prática psicanalítica e o processo de formalização da teoria que serve à sua legitimação científica. Desse modo, a formação do analista encontra-se intimamente vinculada com a edificação da psicanálise como uma ciência, que se define pela circunscrição de um objeto (o inconsciente), pela estratégia que viabiliza o seu acesso como matéria viva de um saber nascente (o método da associação livre e da atenção flutuante) e pelas condições que permitem a formalização desse saber (a metapsicologia).
O estudo freudiano da elaboração da teoria psicanalítica revela como a autoanálise, a prática clínica e o diálogo com os pares de
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