Prótese do dentro
Edição do mês"São Paulo, o eremita" (1640), de Jusepe de Ribera
Em certos circuitos, universidades ou consultórios psicológicos, fala-se em “subjetividade” e em “subjetivação”. O tema é o vasto campo dos pensamentos, das mentalidades, dos sentimentos, dos afetos e das opiniões, fundamentadas ou não, das vontades e desejos, do “conhecimento de si” e do “tornar-se quem se é”. Contudo, para muita gente, essas palavras não dizem nada. Não porque as pessoas não façam parte do jogo de linguagem – ou da “bolha” – em que essas palavras constroem seu próprio sentido, mas porque a própria coisa à qual a palavra “subjetividade” se refere passa por uma crise. Certamente, o que chamamos de subjetividade nunca foi uma coisa e nunca foi sólida. Hoje, quando tudo parece ter se invertido (como no “mundo al revés” de Silvia Cusicanqui), quando tudo o que era sagrado foi profanado, quando as pessoas deveriam ser capazes de encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas e, no entanto, surgem cada vez mais alienadas do mundo e de si mesmas, aquilo que já não era sólido desmancha no ar.
Em circuitos ainda mais fechados se fala em “Sujeito”, núcleo do debate sobre subjetividade e subjetivação, algo que foi dado como extinto. Assim como a fórmula “Deus está morto” tomada fora de contexto se torna um clichê, a morte do Sujeito vem sendo anunciada num jogral transcendental desde o século 20. Talvez o Sujeito cartesiano, ou o Sujeito transcendental kantiano, o Sujeito Absoluto dos velhos filósofos racionalistas e idealistas, tenha, de fato, perdido seu luga
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