Preto é cor, negro é raça: depoimento de um militante do movimento negro
Ato público de fundação do Movimento Negro Unificado, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, em 1978 (Arquivo Nacional)
A expressão do título deste texto, corrente e sempre reiterada entre a militância negra do Rio de Janeiro a partir dos anos 1970, foi ensinada pelos mais velhos. O objetivo era arredar divisionismos ameaçadores à unidade das lutas contra os estigmas e os prejuízos materiais e simbólicos, que afetavam todos os descendentes de escravizados, quase 90 anos depois da abolição formal e legal.
Em 1980, os dados do Censo geral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovavam que pretos/as e pardos/as eram assolados/as pelas piores condições de vida – indicadores praticamente iguais de habitação, saúde, segurança, saneamento etc. – em todas as regiões do país. Assim, pesquisadores do próprio IBGE passaram então a utilizar a categoria negro como a soma de pretos e pardos, as categorias oficiais do Censo demográfico. Foi decisiva, nesse sentido, a atuação de um grupo de militantes, que procuraram dirigentes do IBGE, demandaram a inclusão do item cor e convidaram a direção para uma palestra no Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), em 1979.
Tal evidência das condições de vida de pessoas pretas e pardas instigou Joel Rufino dos Santos, que, em artigo publicado em 1985, discute a dificuldade do Movimento Negro de enfrentar a ideologia da democracia racial, sedutora e conveniente para as elites brancas, tornada um mito fundador da nacionalidade brasileira e acreditada internamente e internacionalmente. E o quanto era frustrante para negros/as que – mesmo com alto custo – conseguiam alguma ascensão socia
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