Ponto de fuga

Ponto de fuga
(Foto: Montvlov/Arte Revista Cult)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de janeiro de 2021 é “perspectiva”.


Ao se fazer um desenho em perspectiva, estabelece-se um ponto de fuga no qual tudo converge. Nessa visão pictória, fugimos para não divergir, portanto.

Tal ponto de fuga é demasiado confuso quando se quer entender o auto desentendimento. Reflete-se, ainda que sem perspectiva, no intuito de (re)ver o que se é, ou que se pretende ser, ou o que se entende por existência. É possível a autocrítica de quem é extremamente detalhado nos dizeres escritos? As palavras perdem o papel de se fazerem entender. A consciência se confunde, pois.

No esboço inicial do desenho, são retas convergentes que se desenham em direção ao centro. Mas há as demais, colocadas no contorno na imagem, paralelas entre si, parte da ordenação sistemática dessa representação. As convergentes são também paralelas no original sem perspectiva.

Do centro do infinito veríamos todas as retas paralelas ali se encontrando. De uma impossibilidade matemática, geométrica, construir uma hipótese do pensamento é mais do que poesia. O enunciado de serem as paralelas retas que só se encontram no infinito traz essa perspectiva. Talvez o postulante original, o geômetra, não tenha considerado a existência do infinito como elemento material, como local de observação. No exercício mental, porém, ele se torna tangível, com o perdão do trocadilho.

Quer dizer, perspectivas antes colocadas como distantes, inexistentes, materializam-se. Basta o elemento cerebral correto, a sinapse no local correto. Um cérebro pensante é capaz de transformações inimagináveis, paradoxalmente.

A consciência que não se explica é a única que poderia explicar a própria existência, divergente, convergente ou paralela. Porém, não avanço nessas digressões ficando com o – ou no – ponto de fuga de uma imagem.

Adilson Roberto Gonçalves é pesquisador
da Unesp, membro do Instituto Histórico,
Geográfico e Genealógico de Campinas e
da Academia Campineira de Letras e Artes,
autor de “Transformações na terra das goiabeiras”

 

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