Pela Ordem
Depois de passar por Brasília, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector está em cartaz no CCBB de São Paulo até 20 de junho. Dirigida, adaptada e interpretada por Beth Goulart, a peça já foi vista por mais de 46 mil espectadores e rendeu a Beth o Prêmio Shell de melhor atriz. A proposta é promover um diálogo entre Clarice e suas personagens sobre temas subjetivos, como morte, vida e solidão.
Beth afirma que se identifica com o tipo de observação de vida feita pela escritora: “Nós, atores, damos um depoimento ao representar cada personagem, porque é a nossa leitura que fica impregnada na interpretação. Eu acho que isso é similar à literatura de Clarice. Quando ela escreve, tem esse olhar e faz questão de registrá-lo”. Para o desenvolvimento do monólogo, Beth leu a maior parte da obra de Clarice Lispector (1920-1977). Ela revela à CULT os livros da autora que mais aprecia, em ordem de preferência.
Perto do Coração Selvagem
“Foi a primeira obra que eu li. É um livro que fala muito do impulso criativo. Eu coloquei essa obra na peça para representar justamente esse impulso selvagem da criação. A personagem Joana é retratada desde a infância até a maturidade sempre por meio desse lado inquieto do ser, em busca de sua própria identidade e de sua visão pessoal do mundo.”
Laços de Família
“É um livro de contos muito bonito de Clarice. Para quem não conhece sua obra, é muito bacana começar pelos contos, porque são muito delicados, quase todos os personagens estão à beira de uma descoberta, de uma revelação. Além disso, é possível chegar perto da profundidade da literatura da Clarice por meio dos contos, que são histórias mais curtas, mas tão geniais quanto os romances.”
A Paixão Segundo G.H.
“Há um encontro com algo superior a si mesmo, que muita gente chama de ‘sabedoria mística da vida’, ou seja, ela se identifica com uma barata e, para transcender a si mesma, precisaria comer o inseto. Essa é uma visão muito profunda. Rose Marie Muraro, por exemplo, me disse que esse seria o verdadeiro conhecimento místico da Clarice: comer a barata. Realmente é um romance imperdível.”
Água Viva
“Fala não só sobre a literatura, mas também sobre a música e a pintura. Ela faz uma trança entre essas três manifestações artísticas para falar do que inspira os artistas, sobre o que é a alma humana, sobre como atingir alguma coisa inatingível e dizer o indizível. Água Viva é um livro muito profundo para nós, artistas, porque ela descreve muito bem o processo da arte.”
Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres
“É muito especial, primeiro porque começa com uma vírgula e termina com dois-pontos. Isso já é uma ousadia literária, pois significa que a história que vai ser contada é só um fragmento da vida daqueles dois personagens: uma mulher e um professor de filosofia. Toda a literatura da Clarice nos revela muito, fala do que vai por dentro da gente, especialmente neste livro. O professor aos poucos mostra à mulher a importância do encontro amoroso e da escolha de viver esse encontro. Pede a ela que se prepare, que tenha a certeza de que é isso mesmo que está sentindo, para poder realmente se entregar.”
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IM-PE-CÁ-VEL. CLARICE MERECE! SALVE CLARICE!