Passeio da Liberdade
Na edição de abril, Vladimir Safatle, a propósito da discussão sobre os destinos de nossos sonhos e aspirações, opôs vida feliz e vida plena. Refratária ao luto, a vida feliz exige um tipo de história triunfal, planejada e edificante, na qual os obstáculos são necessários apenas para atestar a magnitude do herói. A moral desta história é “que nada aconteceu, nada se passou”. Nem poderia ter acontecido, pois se trata de uma forma de vida na qual a contingência radical não tem lugar. Nosso leitor, Geraldo Teixeira, também lembrou como o sofrimento situa-se neste hiato entre a vida e a morte e que a cultura, assim como nos ensina a sofrer, deveria nos ensinar a viver.
Nas semanas seguintes, vivemos a contingência radical em nome da qual a redução do aumento nas passagens de ônibus iniciou o movimento de renovação das formas políticas do país. Em várias de suas entrevistas e intervenções, o pequeno movimento social conhecido como Passe Livre foi confrontado com o vandalismo jornalístico próprio de quem faliu seu sistema de interpretações. A violência indignada dos interpeladores revelava como nossa “teoria da mudança” pode ser anacrônica. Exemplo vivo daquele que diz desejar um evento transformador, mas não consegue reconhecer sua realização quando ele se dá. Para a política do passado, que às vezes tem que encarar seu outono antes de viver sua primavera, toda transformação deve ter um guia, uma pauta, um interesse por trás. A ideia de que nossa insatisfação pode ser catalisada como um verdadeiro acontecimento, justament
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