Entre o preto e o branco: as parditudes como ode à mestiçagem

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Entre o preto e o branco: as parditudes como ode à mestiçagem
  “Preto demais pra ser branco e branco demais pra ser preto / Escuro o suficiente pra estar no seu pesadelo.” “In Sonia (Sonia in my mind)”, do álbum A salvação é pelo risco: o show do JOCA (2019) O rapper que assina a epígrafe deste texto verbaliza o sentimento médio de boa parte dos pardos brasileiros que se reconhece como negra, mas que, de alguma forma, é reticente com essa autoafirmação, por medo de tê-la negada, questionada ou talvez, até mesmo, caçoada por algum espírito zombeteiro racista. Ele sabe que sua identidade depende tanto de seu posicionamento político quanto do lugar e do momento em que estiver, que raça é um fato social relativo, construído e reconstruído inúmeras vezes, mas que, independentemente das nuances, no fim ele é escuro o suficiente para ocupar os pesadelos mais vis da branquitude brasileira. Afinal, ao cair da noite, talvez atravessem a rua ao vê-lo se aproximando. Nem todos os pardos, contudo, se situam no mesmo lugar que o de Joca ou o meu; sabemos que, mesmo que eventualmente o outro não utilize o termo “negro” para se referir à nós, ele, conscientemente ou não, nos racializa como tal. Um bom número de pessoas pardas se encontra em outro lugar, um limbo da autoidentificação, diriam eles, como é o caso de um conhecido meu, de pele marrom-médio, de tons avermelhados e traços finos; um rapaz que teima em se afirmar um mestiço em busca de uma identidade. Oriundo de uma família majoritariamente negra de Araruama, o rapaz se dizia inicialmente confuso com seu lugar e, por isso, preferia n

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