Para gostar de jazz
Você sabia que o Dia Internacional do Jazz é celebrado em 30 de abril? Mesmo para as pessoas que não conhecem profundamente jazz, o gênero musical está presente no cotidiano: nas trilhas sonoras de filmes, em desenho animado e até em ambientes como consultórios.
No entanto, mesmo compondo o “set list natural” de nossas vidas, não é raro o gênero musical ser entendido por algumas pessoas como “música de elite” ou de difícil apreciação, ou seja, música feita para entendidos. Em comparação, podemos afirmar que é um estilo realmente mais complexo do que o parente próximo, o blues.
Porém, apesar de ser uma música mais sofisticada, a história do jazz remonta a união de culturas e a luta pela liberdade representada pelo improviso em grupo. Para mostrar um pouco mais do gênero e para indicar algumas referências para começar a ouvir e gostar de jazz, a seguir, Cult apresenta os principais pontos da história do estilo e alguns artistas icônicos.
Afinal, o que é jazz?
A “música do improviso” conhecida como jazz é o resultado do encontro de diferentes culturas oriundas dos povos europeus e africanos em Nova Orleans, cidade do estado de Luisiana, Estados Unidos, por volta de 1890–1900.
O trompetista Wynton Marsalis define o que é o estilo musical na série “Jazz” (2001, Ken Burns). “O verdadeiro poder e a inovação do jazz é que um grupo de pessoas pode se reunir e criar arte, improvisada, e podem negociar seus interesses entre si. E essa negociação é a arte”.
Origem
O historiador Eric Hobsbawm explica que o jazz não nasceu de forma isolada em Nova Orleans, mas a cidade é considerada o berço do estilo porque foi lá “que a banda de jazz surgiu como fenômeno de massa” e se espalhou pelo mundo.
Em Nova Orleans, o caldeirão de ritmos e danças se manifestavam nas marchas militares, nas músicas populares inglesa e espanhola, no balé francês, nos corais católicos e protestantes, além dos shouts — como eram chamados os cantos de lamento dos negros.
O escritor Gerald Early analisa que o jazz tem influência de muitos povos, mas ele se estabelece e se dissemina a partir da luta por liberdade dos negros. “Jazz é sobre liberdade. É claro que outras pessoas foram oprimidas ou brutalizadas nos EUA. Mas apenas os afro-americanos foram escravizados, foram legalmente um povo com legado, história, consciência histórica de não terem sido livres em um país livre”, explica Early em depoimento na série “Jazz”.
Lendas do jazz
Indicar alguns nomes para audição em um universo de tão variados talentos não é uma tarefa fácil. Para facilitar esse trabalho, foi feita uma pesquisa para saber os nomes mais importantes do gênero com os ouvintes da BBC Radio e Jazz FM.
Evidentemente, faltam muitos nomes importantes. No entanto, a lista dá um bom direcionamento para quem está começando a degustar as delícias sonoras do estilo. Esses foram os 10 principais nomes citados:
- Miles Davis. Ouça “So What”
- Louis Armstrong. Ouça “What a wonderful world“
- Duke Ellington. Ouça “Caravan“
- John Coltrane. Ouça “Giant steps“
- Ella Fitzgerald. Ouça “Dream a little dream of me“
- Charlie Parker. Ouça “Donna lee“
- Billie Holiday. Ouça “Blue moon“
- Thelonious Monk. Ouça “Round midnight“
- Bill Evans. Ouça “Autumn leaves“
- Oscar Peterson. Ouça “Summertime“
Estilos
Às vezes, o pé atrás com o jazz vem de uma vertente especifica do gênero. Talvez falte para a pessoa com antipatia apenas conhecer um “jazz para chamar de seu”.
Não faltam possibilidades, diferentes técnicas e misturas: ragtime, traditional, dixieland, swing, bebop, cool, hardbop, free jazz, jazz fusion, latin jazz, acid jazz e afrobeat são primos da mesma família e bem difentes entre si.
No canal do YouTube Jazz Mansion há uma pequena degustação para cada um dos estilos de jazz, além de explicações. Assista no player abaixo:
Alguns discos para gostar de jazz
1 – Kind of Blue — Miles Davis (1959, Columbia Records)
É considerado o mais influente álbum de jazz de todos os tempos e também é o mais vendido. Além de Davis, o clássico disco conta com as participações do saxofonista Julian “Cannonball” Adderley, o pianista Bill Evans, o baterista Jimmy Cobb, o baixista Paul Chambers e John Coltrane. Um verdadeiro “time dos sonhos”.
Por que vale ouvir?
Além de lindas melodias, Davis foi revolucionário porque implementou uma mudança neste álbum ao explorar o jazz modal, estilo que não segue a progressão dos acordes ou regras de harmonia. Assim, os músicos tiveram ainda mais liberdade no improviso.
2 – Getz/Gilberto — Antonio Carlos Jobim, João Gilberto e Stan Getz (1964, Verve Records)
Os críticos musicais são unânimes em dizer que esse álbum é uma obra prima que merece o grande sucesso comercial que obteve. Aqui temos o caldeirão de influências de jazz do saxofonista norte-americano Stan Getz com o tempero suingado do samba brasileiro de Tom Jobim e João Gilberto, piano e violão respectivamente. Dessa mistura nasceu a bossa nova.
Por que vale ouvir?
Simplesmente o disco que mostrou a bossa nova para o mundo. Em 1965, o álbum entrou para a história conquistando os Grammys de “Álbum do Ano” e melhor “Álbum de Jazz Instrumental”. A faixa “The Girl From Ipanema” (Garota de Ipanema) contou com a participação de Astrud Gilberto e também foi eleita a melhor canção do ano. Por essa performance, o trabalho de “Getz/Gilberto” desbancou “Hello, Dolly!” de Louis Armstrong, “I Want To Hold Your Hand” dos Beatles e “People”, de Barbra Streisand.
3 – Time Out — The Dave Brubeck Quartet (1959, Columbia Records)
Apesar do disco ter uma intenção experimental que trouxe avaliações negativas na época de seu lançamento, “Time Out” tornou-se um dos mais conhecidos e respeitados álbuns de jazz da história. Além do pianista Dave Brubeck, participam do álbum o contrabaixista Eugene Wright, o baterista Joe Morello e o saxofonista Paul Desmond.
Por que vale ouvir?
Mesmo com o pioneirismo no uso de fórmulas de compassos “diferentonas” (marcação de tempo que faz você bater palmas), você entra em transe ouvindo clássicos como “Take five”, música que teve diversas versões instrumentais e em formato canção nas mãos de George Benson, Al Jarreau e Carmen McRae.
Origem do Dia Internacional do Jazz
A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2012. O objetivo da celebração é lembrar a importância do gênero musical, que contribuiu na promoção de diferentes culturas e na luta pela liberdade e fim da escravidão. Por meio do jazz, gerações de músicos sensibilizaram o público para uso da música como instrumento educativo e de diálogo.
Série “Jazz”
Para celebrar o Dia Internacional do Jazz, o canal Curta! e o streaming Curta!On apresentam “Jazz”, série em 12 episódios dirigida pelo cineasta americano Ken Burns. O diretor foi duas vezes indicado ao Oscar e 15 vezes ao Emmy.
No Curta!, o primeiro episódio da série vai ao ar neste sábado (30) às 21h. Os episódios inéditos no canal vão estrear sempre aos sábados, com reapresentação às segundas-feiras, sempre no mesmo horário.
A série “Jazz” revela a evolução musical do gênero e a sua importância social nos Estados Unidos, berço do estilo. Os episódios apresentam a dualidade existente entre arte e negócios, além de mostrar discussões sobre classe social e raça. Grandes ícones do jazz têm a sua biografia e obra musical mostradas na série: Duke Ellington, Miles Davis, Louis Armstrong, John Coltrane, Billie Holiday e mais.
O primeiro episódio chamado “Gumbo” mostra as origens do jazz em Nova Orleans e suas relações com o blues, o ragtime e os cânticos religiosos, espirituais.
Que ter acesso gratuito ao primeiro episódio? Para usar o cupom de acesso da revista Cult, siga o passo passo:
– Faça o seu login ou cadastro em tamandua.tv.br, o marketplace de streamings do Canal Curta!;
– Acesse este link;
– Clique em “Assista”;
– Insira o cupom CULTJAZZ no campo “Cupom Promocional” e clique em aplicar. Depois é só aproveitar até o dia 31 de julho para assistir ao primeiro episódio da série “Jazz”!
Referências Bibliografias
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade . Tradução: Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 7ª edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Tradução: Ângela Noronha. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
Sites