Para além da visão patriarcal
(Arte revista CULT)
Por Gisele Souza Gonçalves
Quem escreve aqui é uma mulher, é mãe e filha, então o texto pretende abordar a paternidade pedindo licença aos leitores pais, já que não posso ter essa experiência e me arrisco mesmo assim a falar a partir das minhas vivências.
A paternidade é um tema a ser lembrado desde a recém chegada de um bebê, porque pais precisam ser ouvidos em um momento em que a novidade vem com um bebê que precisa de todos os cuidados e com uma mãe sensível que está no puerpério. E ali a paternidade começa, com um conjunto de sensações e sentimentos, com uma criança que ensinará muito mais do que se imagina e juntos aprenderão um infinito de coisas.
Os pais são incríveis, não todos, sabemos bem; assim como também sabemos que as mães não são perfeitas, nem os filhos, porque, afinal, ninguém o é. Aqui somos todos muito humanos – alguns eu questiono a humanidade, especialmente nesses tempos em que o retrocesso ficou evidente e além disso há ainda os adeptos a tal retrocesso, mas depois me refaço e lembro que todos temos limitações – buscando fazer o melhor possível dentro de nossa realidade.
Há pais que marcam não só a vida dos filhos positivamente, mas também a vida daqueles que podem conhecer um pouco de como ele vive a paternidade. Qual será a marca deixada por pais que compartilham experiências na construção de sua família contribuindo com todos no lar e superando a visão patriarcal de “chefe da casa”? Que lições eles deixam aos seus filhos e demais espectadores ao mostrar que é possível ser um pai que supere a desigualdade entre o casal e mostre que relações podem ser muito menos de poder e muito mais de amor? Que marcas deixam os pais divorciados que jamais esqueceram de seus filhos e continuam presentes e cientes do compromisso da paternidade? Os pais erram, aprendem, vivem, e assim ensinam seus filhos, e aqueles que compartilham de suas vivências, que a vida é um constante aprender. Admiro os pais que ensinam com seu exemplo o quanto é possível viver a paternidade em uma perspectiva muito mais humanizada e bem menos carregada de estereótipos, favorecendo uma melhor qualidade de vida a todos os que com ele convivem.
Vivo e conheço pais que marcaram a vida de seus filhos, não com o brinquedo mais caro ou com o carro do ano, mas com a humildade e o amor que ensinam mais do que imaginamos. Uma das belas cenas que a vida nos dá de presente, especialmente aos que aprenderam a construir boas relações com seus filhos, é ver pai e filha e/ou filho conversarem à vontade sobre diversas coisas sem medo de serem julgados porque, sobretudo, aprenderam que as relações – desde criança – merecem respeito. Na vida, há um certo conforto em saber que se pode convidar o pai para tomar um café ou uma cerveja porque se tem saudade da pessoa que ele é e esta pessoa é seu pai felizmente.
Compreender que a família leva a importância tanto da mãe, quanto do pai, assim como dos filhos de modo harmônico e não desigual e inquestionável é uma incrível qualidade. E não sejamos ingênuos de pensar que esta é uma tendência das novas famílias constituídas, conheço pais incríveis que já são bem idosos e seguem o passo calmo e justo na vida de avôs, como também conheço pais que fogem da paternidade, mas seguimos o texto lembrando dos pais incríveis e que deixam marcas amorosas em seus filhos, porque eles sim devem ser nossa referência de respeito, aprendizado e amor.
Gisele Souza Gonçalves, 36 anos, professora e doutoranda em Foz do Iguaçu, Paraná