Privado: OBJETO VIGIADO e outros poemas
OBJETO VIGIADO
Os olhos dela, da antena
Olham-me.
Sinto-me nu, despido,
Frente ao sinal,
Frente ao painel.
Ao redor, cegas cabeças
Sentem a tela
Sentem a escuridão.
A multidão seria meu refúgio
Dos olhos verticais da antena
Dos seus dedos metálicos gelados.
No vazio olhar da antena,
Tem mágoa e dor.
Tem temor e ausência.
Ela olha-me com toda frieza
De um metal ereto.
No seu espectro sou apenas um objeto inacabado,
Incompleto
Vigiado
A me mover no campo ?de visão da antena.
FADI/GADO
Tangido e rebocado
Pelos os a fazeres,
Um ser em busca
Do ter
Falece à altura
Da sua tenra
Idade.
Sua “causa morte”, ele lê
Incrédulo e contesta:
– Falha, erro, fraude!
A cabeça caída
Sobre a tribuna
Denuncia: ele/elastizou-se
E a corrente rompera.
Os seus olhos temidos
Pelos flashes
Insist’em olhar.
É um vê calado
De sussurros.
Parece acusar
A necropsia pregressa
De um ir-indo-em-vão
A cada dia.
DESPERTAI-VOS
Comi a noite e a esperança,
E expeli o fogo,
A chama que queima os inocentes.
A inocência equilibra a sobrevida
Entre o texto e o torrão negado.
Comi a sorte e o medo,
Repatriei/rebatizei
O pecado.
Os pecadores se foram,
Já não há cerca a cruzar.
Retornemos em passos sólidos.
As janelas fechadas,
Dizem adeus às partidas e lembranças.
E o tempo já não soa mais como agora: linear.
Por isso comi o ontem e o amanhã.
Meus arrotos são: o presente desesperado.
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