O tempo como álibi: liberdade ou solidão?

O tempo como álibi: liberdade ou solidão?
(Foto: Kelly Sikke/Unsplash)

 

Lugar de Fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de julho de 2020 é “tempo”


Há muito que quero falar sobre esses “quase três meses” de isolamento social. Eu não queria romantizar o que tem acontecido, tampouco dizer que poderia nunca acabar, mas nesse tempo que tem passado, você já se perguntou se há algo de bom através de tanto silêncio mental?

Falamos tanto sobre autocuidado que esquecemos do que realmente é isso na prática. Mas sim, esse é o momento de usarmos o famoso “útil ao agradável”. Em algum lugar nesse exato momento pode ter alguém odiando isso tudo, porém há em outros lugares alguém que pode estar amando. Mas não vão dizer, por que é indiscreto dizer o que está se sentindo bem agora.

Diante disso tudo temos duas opções: tentamos tornar tudo melhor e confortável a nosso favor ou apenas podemos ver essa situação do lado mais péssimo, vazio e limitado possível. Eu acredito que seja o momento de ouvir o silêncio.

A solidão não pode ser tão ruim assim. Eu amo ouvir o nada. Parece um pouco louco, né?

Mas é exatamente isso que nós somos, nada. Somos um amontoado de escolhas, personalidades, metas, influências e você já entendeu que para a solidão isso é nada.

Ouvi dizer que quando você não ouve o mundo, começa a entender e escutar o novo.

Quando você escutar o que esse novo tem para te oferecer tudo vai mudar. Você vai começar ver tudo totalmente diferente porque é exatamente isso que queremos com esse experimento social, ver diferente, sentir diferente, ser diferente. Não é o objetivo voltar ao normal quando tudo acabar, o normal era exatamente o problema.

“Ah, mas estou com uma família imensa, isso não é ter tempo para mim”.

Há várias tipos de “tempo” para ser interpretado neste momento, mas acredite, a sua saúde mental pode te destruir se você não souber administrar.

Já tive noites em claro, passei três meses em um hospital, já fui viajar para o interior e eu te garanto que a pior dessas solidões foi me esquecer dos meus pensamentos. A saúde mental é a nossa casinha, se ela estiver em ordem tudo estará.

E tem mais. Sei que o pensamento e os hábitos diários andam juntos, então se programe para ter um dia tranquilo. As incertezas e as inseguranças estão batendo na porta e a ansiedade vem de brinde.

Estabeleça uma rotina, faça exercícios físicos, medite, caso não consiga, ouça a sua música predileta. Troque as cortinas, dizem que renovam a alma. Selecione as notícias, nem tudo é construtivo. Peça sempre conselhos aos mais velhos, estamos tendo uma oportunidade de ouro.

E não se esqueça nunca: a nossa mente é o nosso único lar e ele reflete a nossa realidade. Ouça você, sempre.

Laiela Santos é escritora e militante do Movimento Feminista Negro

 

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