Privado: O retorno do espectro

Privado: O retorno do espectro
Francisco Alambert Há pouco mais de 150 anos. Marx e Engels escreviam o Manifesto Comunista, na esteira dos movimentos revolucionários que eclodiam no século XIX. A partir de então, torna-se clássica a imagem shakesperiana da abertura do Manifesto: um espectro, um fantasma revolucionário rondaria a Europa e, logo, o mundo. Desde Marx e dos marxistas que o seguiram, a imagem do espectro que surge e ressurge correu o tempo e passou a habitar o imaginário político e ideológico do século XX. Mas o final do século passado viu refluir drasticamente o marxismo como projeto de organização negativo do capitalismo. Na esteira da completa falência do projeto soviético, da derrota dos movimentos revolucionários europeus, da ascensão (ao longo de cerca de cinquenta anos) de uma esquerda moderada social-democrata, cujos frutos benéficos na efetivação de um Estado de Bem-Estar-Social se fizeram sentir até pouco tempo atrás, o marxismo passou por idas, vindas, desaparições, fantasmagóricas, crises de identidade, refutações tácitas, enterros cinematográficos. Mas é da natureza dos espectros retornar quando a noite cai. Quando Marx e Engels escreveram seu panfleto antológico, o maior elogio à dinâmica transformadora e dissolvente das forças monstruosas (em todos os sentidos) que o capitalismo liberou (cuja frase emblemática no Manifesto é a não menos fantasmagórica "tudo que é sólido desmancha no ar") as revoluções pareciam bater à porta da história. Como se sabe, não tardou muito para que as derrotas e os refluxos acompanhassem um período, que s

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