O que há na infinitude

O que há na infinitude
Em setembro, convidamos nossos leitores a refletir sobre o que nos conecta (Arte: Cynthia Gyuru/Revista Cult)

 

Lugar de fala é o espaço dos leitores no site da Cult. Todo mês, artigos enviados por eles são publicados de acordo com um tema. O de setembro de 2020 é “conexão”.


Embora seja terra neutra, a conexão inevitavelmente diz respeito ao quanto que nós decidimos nos doar e a quê. Podemos estar conectados – com o outro e com nós mesmos – tanto pela ideia plural e comum de amor, quanto pelo ódio destrutivo em seu máximo ressentimento. Na fronteira entre esses dois grandes afetos, abre-se um leque de possíveis outros onde é sempre possível elaborar conexões passadas, presentes e futuras.

A força de toda conexão reside sempre no desejo. Contudo, nenhum elo pode ser feito com o outro, ainda que desesperadamente desejado, se não houver uma mínima conexão de si consigo mesmo; ou o desejo, não tendo onde se sustentar, morre. E nem mesmo a própria morte é o fim de uma conexão para todos, pois muitos desligam-se da vida e em vida conectando-se à ideia de morte. A morte então passa a ser a desconexão de si – a verdadeira morte é a morte do desejo de se conectar.

Mais singela e fugaz, todavia, do que o vaticinado mundo afora, a beleza da
conexão possível reside simplesmente em se permitir estar presente quando ela aparecer; em agarrar-se à ela e deixar-se levar com a segurança do desejo, ainda que dure apenas um átimo, pois é num átimo de conexão genuína que se resume toda uma vida.

Ao fazer laço por vontade própria, cada um torna-se belo e infinito em sua finitude. É belo e desejável, também, que a grande e primordial conexão de cada um seja sempre com a coragem, pois sem ela todas as outras estarão fadadas à nossa própria instabilidade e ruptura.

 

Paola Romanova, 18, é cozinheira, estuda psicanálise e escreve para se sentir infinita

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