O que estou lendo
Eu estou relendo A estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha (Cia. das Letras, 1999), biografia de Garrincha, gosto muito de biografias. A primeira vez que eu a li, era adolescente, tinha cerca de 15 anos. Meu namorado, [o cantor e multi-instrumentista] Curimin, está lendo pela primeira vez e todo o dia que ele comentava alguma coisa, eu ficava muito curiosa em relembrar. A história de Garrincha com Elza Soares é super bonita. Como ele sabia que era uma estrela, abusava um pouco disso. Garrincha não ia treinar, chegava dez minutos antes do início do jogo, mas jogava uma boa bola, fazia gol, ia para casa e ninguém podia falar nada. Uma hora isso começou a parar de acontecer, ele passou a ter problemas de saúde, o joelho ficou machucado, ele teve problema com bebida. Infelizmente, Garrincha teve um final de vida muito triste para o que ele representa para o país e para o esporte. Pobre e doente, ele foi muito explorado pelo clube, física e financeiramente, porque ele era analfabeto e não sabia ler os contratos.
Anelis Assumpção, cantora e compositora. É uma das apresentadoras do programa EcoPrático (TV Cultura)
Eu ganhei o livro Alucinações Musicais – relatos sobre a música e o cérebro (Cia. das Letras, 2007), de Oliver Sacks, como parte do prêmio por ter sido selecionado pelo Rumos do Itaú Cultural [programa de apoio à produção artística]. Ganhei cerca de dez livros, mas esse foi o que mais me chamou a atenção. É uma obra muito gostosa de ler. São pequenos depoimentos, então não é necessário ler constantemente, não é linear, não é uma história. Os depoimentos são de pacientes do neurologista Sacks sobre suas relações com a música. O autor levanta questões e episódios que ocorrem com seus pacientes. É um livro muito interessante, porque diz respeito à minha vida. Eu estou envolvido com música o tempo inteiro. Em um dos capítulos, por exemplo, o autor levanta a questão do ouvido absoluto, que é um assunto que assombra todos os músicos. Então, me levou a pensar novamente sobre essa questão do ouvido absoluto. Ele acaba discutindo coisas que a gente pensa muito.
Gilberto Assis, baixista, compositor e produtor musical. Produziu os álbuns Com Defeito de Fabricação (Tom Zé, 1998), Chiquinha em Revista (Selo SESC,2009), entre outros
Não consigo ler por prazer, não tenho concentração para leitura. Durante muito tempo, eu menti: falava que estava lendo, que adorava ler, mas depois, passei a assumir. No meu túmulo, vou colocar: “Voltarei para ler os livros”. Tenho uma pequena biblioteca na praia, naquele lugar que não se tem nada para fazer, onde comecei Cem anos de solidão (Record). Consegui ler até a metade, depois fica meio repetitivo, mas está lá, um dia eu termino. Meu livro de referência é Candido ou O Otimismo (Ediouro), de Voltaire. Essa é uma obra que sempre releio e penso: “Dá para fazer um filme desse livro”. Separei o Sementes Aladas – Antologia poética de Percy Bysshe Shelley (Ateliê Editorial) para ler um poema por dia. Tem um momento, por exemplo, em que ele faz uma descrição de uma ave selvagem. Achei tão lírico, tão bonito. De vez em quando cai uma pérola em minhas mãos que eu consigo devorar.
Guto Lacaz, artista plástico. Expôs na Bienal Internacional de São Paulo e no Museu de Arte Moderna de Paris. Sua instalação mais recente é A Terceira Margem do Rio, na marquise do Parque do Ibirapuera