O poema em prosa de Cruz e Sousa: Satanismo e escravidão
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O poema em prosa é um gênero fundado em um princípio anárquico: repugna classificações e busca na implosão dos limites formais a possibilidade de manifestação de uma revolta criativa. No entanto, ao lado do impulso destrutivo, surge a força construtiva que pretende criar um gênero autônomo. Daí a contradição interna, a tensão latente que marca essa nova forma de expressão. A revolta face às leis estéticas, aliada ao desejo de uma forma que pudesse dar conta das necessidades do lirismo moderno, é uma característica que permitiu a afirmação do gênero durante o Simbolismo. O poema em prosa tem seu marco histórico com Gaspard de la nuit, de Aloysius Bertrand (1842). Mas, com efeito, o novo gênero será fixado sobretudo com Le Spleen de Paris (1869), de Charles Baudelaire. Outros importantes volumes de poemas em prosa do período são: Une saison en enfer (1873) e Les Illuminations (1886), de Rimbaud, e Les chants de Maldoror (1869), de Lautréamont.
O poeta brasileiro Cruz e Sousa encontrou na leitura de autores franceses como Villiers de L’Isle-Adam, Mallarmé, Baudelaire, Verlaine, Nerval, Huysmans e Rimbaud, além das traduções francesas de Edgar Allan Poe, a direção estética de sua produção rumo ao Simbolismo. De Verlaine, o poeta apreendeu a musicalidade; de Mallarmé, o culto à arte e às formas transcendentes; de Villiers de L’Isle-Adam, o apego à atmosfera decadentista; de Baudelaire, os temas marginais e o satanismo. Particularmente na prosa, seus textos revelam as leituras e a transfiguração destas para outra realidade
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