O olhar estilete de Evgen Bavcar

O olhar estilete de Evgen Bavcar
Auto-retrato de Evgen Bavcar (Reprodução)
  Saio para encontrar Evgen Bavcar, escritor e fotógrafo esloveno, cego desde os 12 anos de idade, com a expectativa de ouvi-lo falar um pouco mais sobre uma frase de Samuel Beckett, que evocou em uma de nossas conversas ao telefone: “Minha língua materna é o silêncio!”. Fico me perguntando no caminho de que silêncio se trata. Imagino o silêncio da origem como algo ruidoso, turbulento, labiríntico, escrevendo em nossos olhos um ponto de interrogação. É na medida em que podemos furar este silêncio e deixar jorrar a linguagem que nos habita como uma espécie de protuberância corporal, que percebemos que o que nos faz falar é um esquecimento desta origem. Entramos na linguagem acossados por um código que institui a vida como enigma. Este código cumpre uma função de corte ao indicar uma gramática, uma sintaxe, uma métrica, um sotaque, um sintoma como herança que nos orienta. Assim sonhamos encontrar, através da linguagem, alguma pista desta origem que esquecemos. Não será fundamentalmente isto o que nos faz falar? É a partir de um rastro que nasce o significante. Esta é uma das teses que Jacques Lacan desenvolve em inúmeros momentos e especialmente no Seminário sobre a Identificação de 1961-1962, no qual mostra que o apagamento de uma marca inaugura uma posição de sujeito e um lugar de enunciação, na medida em que o apagamento vai indicar um endereçamento possível. Este ato de rasura indica o Outro que nos interpela. Rasura, portanto, que surge inevitavelmente como ferida na superfície do texto mostrando que o que é próprio d

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