Privado: O mistério da corrupção

Privado: O mistério da corrupção

por Marcia Tiburi

A tradição teológica e filosófica nunca conseguiu explicar o “mistério da iniquidade”, a existência do mal como potência do desejo e da ação humanas.

Ora, a corrupção é o mal do nosso tempo. Curiosamente, ela aparece como uma nova regra de conduta, uma contraditória “moral imoral”. Da governalidade aos atos cotidianos, o mundo da vida no qual ética e moral se cindiram há muito tempo transformou-se na sempre saqueável terra de ninguém.

Como toda moral, a corrupção é rígida. Daí a impossibilidade do seu combate por meios comuns, seja o direito, seja a polícia. Do contrário, meio mundo estaria na prisão. A mesma polícia que combate o narcotráfico nas favelas das grandes cidades poderia ocupar o Congresso e outros espaços do governo onde a corrupção é a regra.

Mas o problema é que a força da corrupção é a do costume, é a da “moral”, aquela mesma do malandro que age “na moral”, que é “cheio de moral”. Ela é muito mais forte do que a delicada reflexão ética que envolveria a autonomia de cada sujeito agente. E que só surgiria pela educação política que buscasse um pensamento reflexivo.

Pobre, mas honesto

O sistema da corrupção é composto de um jogo de forças do qual uma das mais importantes é a “força do sentido”. É ela que faz perguntar, por exemplo, “como é possível que um policial pobre se negue a aceitar dinheiro para agir ilegalmente?”

O simples fato de que essa pergunta seja colocada implica o pressuposto de que uma verdade ética tal como a honestidade foi transvalorada. Isso significa que foi também desvalorizada.

Se a conduta de praxe seria não apenas aceitar, mas exigir dinheiro em troca de uma ação qualquer na contramão do dever, é porque no sistema da corrupção o valor da honestidade, que garantiria ao sujeito a sua autonomia, foi substituído pela vantagem do dinheiro.

Mas não somente. Aquele que age na direção da lei como que age contra a moral caracterizada pelo “fazer como a grande maioria”, levando em conta que no âmbito da corrupção se entende que o que a maioria quer é “dinheiro”.

Verdade é que a ação em nome de um universal por si só caracteriza qualquer moral. É por meio dela que se faz o cálculo do “sentido” no qual, fora da vantagem que define a regra, o sujeito honesto se transfigura imediatamente em otário.

Se a moral é medida em dinheiro, não entregar-se a ele poderá parecer um luxo. Mas um contraditório luxo de pobre, já que a questão da honestidade não se coloca para os ricos, para quem tal valor parece de antemão assegurado.

Daí que jamais se louve nos noticiários a honestidade de alguém que não se enquadra no estereótipo do “pobre”. Honesto é sempre o pobre elevado a cidadão exótico. Na verdade, por meio desse gesto o pobre é colocado à prova pelo sistema. Afinal ele teria tudo para ser corrupto, ou seja, teria todo o motivo para sê-lo. Mas teria também todo o perdão?

O cidadão exótico – pobre e honesto – que deixa de agir na direção de uma vantagem pessoal como que estaria perdoado por antecipação ao agir imoralmente sendo pobre, mas não está. A frase de Brecht seria sua jurisprudência mais básica: “O que é roubar um banco comparado a fundar um?”.

Ora, sabemos que essa “moral imoral” tem sempre dois pesos e duas medidas, diferentes para ricos e pobres. No vão que as separa vem à tona a incompreensibilidade diante do mistério da honestidade. De categoria ética, ela desce ao posto de irrespondível problema metafísico.

Pois quem terá hoje a coragem de perguntar como alguém se torna o que é quando a subjetividade, a individualidade e a biografia já não valem nada e sentimos apenas o miasma que exala da vala comum das celebridades da qual o cidadão pode se salvar apenas alcançando o posto de um herói exótico, máscara do otário da vez?

(31) Comentários

  1. Concordo em parte com o texto de Marcia Tiburi. A corrupção está na alma do brasileiro, quando nós vemos estes Ministros do Governo desta grande mulher Dilma, sentimos um ataque feroz dos abutres, dos Golias das elites brasileiras, que não são uma elite distributivista. Nós sentimos que esta nação está enferma. O que fazer? Demitir todo mundo? E os empresários que ganham verbas públicas não são corruptos? A motorista no seu carro importado Hunday que suborna o policial támbém não é uma corrupta? Ora, nós temos que apoiar esta grande mulher, neste sentido. E estou de cadeira para falar nisto, porque não votei nela, mas vejo-a como uma mulher de fibra, de coragem, por ter uma passado de luta e coerência moral. Mas vamos olhar para o futuro do páis, para a esperança, de dias melhores, e um 2012 cheio de bençãos, vitórias para o povo brasileiro. E fico com a deliciosa frase antropólogo Darcy Ribeiro, que dizia: ” Mestiço é que é bom!”
    Desejo um 2012 para esta Revista que sou assinante muitas felicidades, e longas vendas. Parabéns para a Cult, a melhor revista brasileira de cultura, política, e tudo mais.

    Atenciosamente,

    Prof. Marcos Aurélio Azeredo

  2. As pessoas não esperam que os ricos sejam corruptos, pois eles já tem riquezas acumuladas e, portanto, não precisaram se corromper para obterem mais do mesmo.

    Já o pobre, por não ter riquezas acumuladas, é um “corrupto em potencial” e quando ele age eticamente seja pela sua moral pessoal, religiosa ou ideológica, se torna um “cidadão exótico” de conduta diversa, mas louvável.

    Enfim, o sistema de convívio do qual fazemos parte, conceituado por Rousseau, exige das pessoas atitudes perante as outras para chegar ao bem comum, mas em um mundo cada vez mais Nilista o mais provável é que voltemos a selvageria batalha para sempre estar um passo mais a frente do outro, afinal a grama do vizinho é sempre mais verde, não concordam.

    Abraço.

  3. a corrupção é a resposta natural e sadia num ambiente competitivo. agir sob o emblema “pobre mas honesto” deve ser considerado uma aberração psicológica; a impressão que tenho é que se trata de uma pessoa que espera algum prêmio por sua galopante honestidade. encaremos de frente as coisas como elas são.

  4. Há 60 anos atrás o homem ainda se envergonhava (meu avô dizia que um fio de barba valia uma assinatura…) Nos anos 70 durante a ditadura militar tudo era feito às escondidas e tudo se tornava justificável, afinal vivíamos sob pressão em meio a uma bruma de medo e sussurros… nessa mesma época um comercial de cigarros protagonizado por um famoso jogador de futebol (sim um atleta!) preconizava a vantagem de se levar vantagem em tudo… assim, sem querer, inaugurava-se o famoso jeitinho brasileiro! O jeitinho brasileiro de burlar, de criar atalhos nas entrelinhas das leis, institucionalizar o favorecimento, a carteirada, o esquema, o “quem indica”… nos anos 70 as favelas cresceram junto com o crime. Paralelamente cresceram os “por debaixo do pano” e “pra baixo do tapete”… hoje vivemos em outro milênio, aquele onde depositamos esperanças infantis de progresso e tecnologia, mas recebemos apenas retrocesso moral e o que é pior: a aceitação passiva da nossa própria desmoralização…

  5. Quanta filosofia de buteco, isso é para aparecer para os esquerdopatas? Ou a finalidade é escrever muito e não significar nada? Afinal roubar um banco é crime, fundar um não! Aceitar ou não propina não é uma questão de condição social, de pobre ou rico, é uma questão de caráter! Pelo que o texto afirma, só pobre é honesto! Todos os ricos são corruptos, desonestos? Então o que me dizer dos que vivem à sombra dos ricos, as vezes filosofando, as vezes fazendo reportagem ou aparecndo na TV posando de bonzinho? A que categoria pertenceriam? Morais imorais?

  6. Acrescentando, que a corrupção também está no funcionário público que não trabalha, os médicos da rede pública, que recebem gordos salarios sem comparecer no comsultório do posto de saúde ou hospital, e são muitos que conheço de carteirinha especializada da corrupçaõ

  7. Em tempo, vejamos se meu comentário não será censurado!
    Segundo, não é dois pesos duas medidas, é dois pesos uma medida! Na boca do povo eu aceito dois pesos duas medidas e explico. São dois pesos e uma medida para cada um, matemática e filosoficamente correto. Com dois pesos uma medida, terimos formas diferentes de medir a mesma coisa, isso é matemática e filosoficamente incorreto. qual a sua preferência?

  8. Márcia,
    Suas perguntas não significam muito, de um jeito ou de outro. As respostas também não, de um jeito ou de outro. A vida deve ser vivida sem perguntas e sem respostas; só então você a vive em sua autenticidade.
    Então…
    Vá para a vida — esse é o único templo onde Deus pode ser encontrado. E sem perguntas e sem respostas, apenas vá silenciosamente, inocentemente, de maneira ignorante. Apenas vá para a vida e deixe-a tomar posse de você.
    Beijos
    Roberto

  9. Se formos analisar a História mundial, vamos ver que corrupção é um “fetiche”, que delimita poder. O ser humano quer conquistar o poder sempre. Quando não tem estudo, capacidade maior do que só conversar bem, ele emprega então todos os meios para conseguir. Desde Alexandre, César, Ptolomeu, Copérnicom até nossos podres políticos (e nós mais podres ainda) não me enganei: é podres mesmo!repito, desde os tempos mais antigos que podemos lembrar, o ser humano tentou e conseguiu muitas fortuinas com desvios, abusos e outras formas mais. Então, não é privilégio dos brasileiros e nem dos cidadãos modernos.

  10. A corrupção não está na alma do brasileiro! Pode estar no espírito espúrio de uma gama de brasileiros, irlandeses, nisseis, paraguaios, americanos, italianos… Esse nódulo quando aflora nos faz reconsiderar toda uma história da humanidade, aparentemente herdada por intermináveis gerações, sem conserto. Felizmente a parte putrefata é mínima, apesar do medonho estrago que faz. A nós, que não trazemos na alma esse cancro, resta-nos combate-la com enfrentamento e determinação, a qualquer preço e custo. Justamente por não estar na alma, é que tem jeito! Abraços.

  11. Gostei mais do comentário de Marcos Azeredo do que da resenha de Márcia Tiburi. Pra começo de conversa, a corrupção não é apenas mal da nossa época, na verdade vem de muito tempo; o jesuita Antônio Vieira já fazia denúncias sobre a corrupção dos agentes públicos em meados do século XVIII. Um candidato a presidente utilizou como mote de campanha – começo dos anos 60 – o combate à corrupção, a vassoura como símbolo etc. Vejo a ~convocação de uma assembléia constituinte exclusiva como uma possibilidade de alterar algumas coisas em termos de estrutura e ritos do Estado; não dá para esperar mudanças profundas propostas pela classe política mandatária, pela elite judiciária comprometida.

  12. o que me incomoda é ver esse bando de porcos enlameados se comprazendo em revelar a sujeira dos outros( porcos).Abram todos os seus gabinetes, suas empresas e vamos ver quem resiste a uma investigação. Será que dá pra passar a limpo esse país?

  13. Nos dias de hoje, infelizmente, ser honesto é uma grande qualidade, enquanto na verdade deveria ser o básico entre as pessoas…

  14. De fato aquilo que e possível chamar de honestidade espontânea, aquela que emerge do instinto e da convicção pessoal, esta cada vez mais rara. No entanto, acredito que precisamos ir além da lógica que valida qualquer artimanha que busque recompensa em benefícios financeiros, acúmulo de capital e status social.

    Deve-se considerar sistemas de coerção eficientes para que estes funcionem como “freios psicossociais”, através de um mudança violenta nos valores difundidos pelos meios de comunicação, família, sistemas educacionais, e acima de tudo, na aplicação de maior rigor jurídico.

    Sem um mecanismos de repressão adequados e eficazes contra a corrupção, infelizmente, até por uma questão darwiniana, o animal humano vai SEMPRE buscar o caminho mais fácil e indolor para viver dentro do seu contexto, salvo raríssimos casos.

  15. Caro professor.
    Lamento, mas em um país com uma mentalidade cidadã, nenhum presidente resistiria ao cargo após montar um time tão incompetente.
    A demissão de tantos ministros em menos de um ano coloca em xeque a capacidade do dirigente.
    O discurso de que todo político é corrupto é um ardil elaborado pelos próprios políticos corruptos.
    É o diabo e seu melhor truque, de fazer crer que não existe.
    Se um dia o brasileiro apaixonar-se de verdade pelo Brasil, discutirá temas políticos com a mesma paixão que discute futebol.
    Afastar-se da política é dar de prato cheio o país aos bandidos. A consequencia é o pensamento de que um presidente é dissociado da corja que ele mesmo empossou.
    O problema é que participar dá trabalho. Começa no condomínio, no sindicato (patronal ou de empregado), no bairro, Conseg, e necessariamente continua na eterna vigilância do executivo.

    R

  16. Certamente há homens ricos e pobres q são honestos, tbm há o contrário, ricos e pobres desonestos. A corrupção está na natureza do homem, uns + outros menos. E isso não e prerrogativa do Brasil. A Bíblia (2 Timoteo Cap. 3, verso 1-9)fala da Extrema corrupção nos últimos tempos;1 Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; 2 porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos,soberbos,blasfemos,desobedienes a pais e mães, ingratos, profano; 3 sem afeto natural,caluniadores irreconciliáveis, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons;4 traidores, dobstinados,orgulhosos,mais amigosdos deleites
    do que amigos de Deus; 5 tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. 2.000 anos atrás o Apostolo São Paulo já sabia disso.

  17. Durante minha graduação em filosofia ouvi comentários desairosos a reapeito da fundamentação filosófica da Dra. Márcia. Acreditando que se tratava apenas da “fogueira de vaidades” do meio acadêmico, nunca os levei em consideração. Entretanto sou obrigado a reconhecer que o tema da presente matéria tem profundidade jornalística ou seja está muito aquem do que espero de uma Doutora em Filosofia.

  18. Como sói acontecer, os textos da culta filosofa Marcia Tiburi são ousados, provocantes e nos levam a refletir. Seu viés pessimista, externado no texto acima, revela sua herança genética na Escola de Frankfurt. Assim, o desencanto não é mero acaso.

    Não sou tão sem esperança assim. Creio que todos enfrentamos, no ambito de nossa existencia (individual e coletiva) essa tensão entre ética e moral. Entendida a ética como encaminhamentos de solução para o “Como devo viver minha vida ?”. Mas com que moral essa questão, que se coloca para o pobre e tambem para o rico, se tensiona, se enfrenta ? A moral positiva ? Se assim fosse, Marcia teria total razão em seu pessimismo. Mas vejo que o maior dilema vem pela relação da ética com a moral critica (em uma sociedade que positiva a moral em parte discrepante da moral ideal, por supuesto….). Aliás, esse é o dilema da modernidade, quando cinde a moral e a ética. Sem o porto seguro da religião de sua ética que se funde com as escolhas de Deus ou dos Santos, qual será o ponto de apoio de referência no dilema ética e moral (já que agora somos plurais axiologicamente e livres….(?)) ? Coloquemos os pés no chão: Brasil 2011/12. O espaço publico pouco tem contribuido para que esse debate, que envolve ambitos de esferas decisorias, individuais (etica) e coletivas (moral) sejam amadurecidas, e que, por conseguinte, tenhamos alicerces éticos não apenas universalizáveis kantinamente (golden rule), mas frutos de uma praxis historica minimamente emancipadora. O que há – daí não ser pessimista como a professora Marcia – são pequenos espaços publicos que admitem avanços. Exemplo:a a Judicialização da Política, em que o Judiciario tem tornadas cogenes, obrigatórias, politicas publicas não implementadas pelos Governos, mas que tem fundamento em mandamento da Constituição (exemplos: direito a saude, ao meio ambiente, cosumidores, educação etc). Bem, esse é outro papo, com a brilhante escritora Marcia Tiburi.
    Com abraços do seu amigo

    David Diniz Dantas

  19. Cara filósofa e colega,
    Vamos nos deter em Fausto por alguns minutos… O que percebemos?
    Faces, personas e uma dose cavalar um tanto quanto hedônica do ser e estar contemporâneo… a ética do imoral cuja face é moralmente aceita se impõe como uma verdade quase compulsória, mas que não deve nos levar ao ocaso da crítica.
    Adoro suas colunas esperto que vc esteja sempre aí…

  20. Acredito que a corrupção está em todos os âmbitos, em uma sociedade cada vez mais egoísta e ambiciosa os valores como moral e ética estão quase sempre um degrau abaixo.

  21. Marcia, gostei muito do texto! Abre espaço para ótimas discussões! O pior foi me deparar com comentários de algumas pessoas que só confirmam a razão pela qual o mundo está do jeito que está! Digo isto porque percebo na ignorância destas mesmas pessoas o quanto a falta de reflexão e de estudo é prejudicial para o ser humano. Neste sentido, como educadora, você teria duas opções para lidar com os comentários mal educados caso isto importasse ou pudesse mudar alguma coisa: ou reescreveria o texto explicando em detalhes o que está por detrás dos termos (B+A=BA) ou faria um relatório sobre as “reações sintomáticas” dos “sujeitos” para confirmar a deficiência do ensino no Brasil e o quanto as pessoas não estão preparadas para discutir algo educadamente e, feito isto, enviaria para o MEC na “esperança” de que isso abra campo para um estudo sério do tipo “seres alienados e mal educados insistem em falar (“pobres e ricos, sem distinção”)” ou “A agressividade é uma patologia?”. Este relatório seria um dos documentos históricos que refletem a política de ensino medíocre empregada no Brasil, porém, ainda assim, os ajudaria, confirmando a eficiência das “táticas” educacionais puramente mercantis. Que tristeza!
    Admiro sua coragem e tolerância!
    Bons afetos!

  22. A moral brasileira se apresenta assim neste momento ou é como ela sempre foi. Parece só um enredo apropriado para a época.
    Leniência e hipocrisia são parte do caráter nacional.

  23. `Curioso como eu me atenho muito mais aos comentários do que ao texto. Acho engraçado como as pessoas atacam as ideias expostas na pretensão de justificar sua falsidade ou não. O que está dito é mentira ou não? Se aplica ou não? Não vejo no texto uma discussão sobre uma essência da imoralidade, o que me parece que autora tenta marcar é a corrupção enquanto efeito de uma justaposição da moral e da ética. Acredito que o texto abre uma questão importante… Os limites da moral (do certo e errado que em sua síntese será sempre um impasse) invadindo os limites da ética, da vida em sociedade, da construção de um sociedade equânime. Entendo que amplitude dessa questão nos impõe o desafio da construção do espaço público, que sem nostalgia, precisa resgatar seu aspecto político… Acredito que a questão da corrupção esteja fortemente vinculada às “tiranias da intimidade” e isso acaba impactando diretamente os modos de vida, enfraquecendo ou corrompendo as instituições reguladoras das relações sociais,o ideal de democracia que sustenta nosso modelo de governabilidade (fracassado, diga-se de passagem. Portanto, usemos o texto como um dispositivo, não tentemos encerrá-lo em verdades ou falsidades, usemos como um operador de poder no jogo complexo de se fazer humano…

  24. A condição de vivermos em sociedade a meu ver, pressupõe regras impostas por nós mesmos a serem seguidas e cumpridas. Pode até parecer ingenuidade, mas eu acredito que o homem é produto do meio, e, portanto, se o meio é podre temos de melhorar o meio. Agora em achar que só nós o brasileiros somos corruptos/corruptores, isso sim é a mais “bela” das ingenuidades. Mas temos também que considerar o fazer humano: ele pode tudo? Pode. Existem consequências para esse “poder tudo”? Existe; mas, temos que pagar por elas.

  25. O antropólogo Roberto D´Matta há anos fala do jeitinho brasileiro que às vezes adquire um cheiro de corupção. Esse desfarce, essa coisa meio “deixa-disso”, “pega-leve”, faz parte da nossa cultura. Mas parabéns a essa filósofa que sabe analisar as coisas sob perspectivas novas. Apesar da linguagem jornalística e sintética, com uma série de cortes, para caber na página da revista, seria bom que falasse mais, explicasse mais o pensamento, fosse mais fluente.

  26. corrupção é câncer, é bomba relógio que vai explodir, mais cedo ou mais tarde, lá na frente, geralmente no colo dos despossuídos de sempre. tem de ser combatida a todo transe, sem quartel. delenda corrupção! “resposta natural e sadia”, luis martinho?. ora, cinismo tem limite!

  27. Lendo este texto e estes comentários, meu desanimo vai se tornando desesperador. Perdi meu emprego por não compactuar com algumas falcratuas propostas pelo meu chefe.
    Já tive que me demitir de uma outra empresa, porque um sócio estava roubando o outro(que era sócio e irmão) e eu não queria ser conivente e também criar um problema entre a família, então a única saída foi procurar outro emprego. Tenho resistido bravamente, mas a corrupção e as falcatruas nas relações empresariais e dentro das próprias empresas, está tornando a vida de muitos profissionais honestos um verdadeiro martírio.
    Rezo por uma oportunidade em uma empresa séria, que valorize a capacidade, o comprometimento e o caráter de seus colaboradores.

  28. Não é à toa que em algumas tradições no Judaísmo do Segundo Templo, e nas tradições das quais emanaram o documento “Q”, fonte dos evangelhos de Mateus e Lucas, a referência à riqueza deste mundo é “riquezas da iniquidade”, e se associa a ganãncia à idolatria – Mamón.
    Por detrás da riqueza monetária neste mundo, há sangue, violência física e moral, inescrupulosidade, extorção, trapaça, ardilosidades… há muito peso e responsabilidade por detrás de cada nota de um real nas mãos de alguém…
    E de que adianta ganhar o mundo inteiro, se perder a própria alma?

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