O indivíduo desfigurado

O indivíduo desfigurado
Walter Benjamin entre o irmão, Georg, e a irmã, Dora, por volta de 1905 (Foto: Reprodução)
  “Naquela época, todos só desejavam uma coisa: ir-se embora deste mundo, desta vida em ruínas, deste planeta”. Anna Seghers no romance Trânsito, que tematiza sua fuga da perseguição nazista   Nos vinhedos da cidade francesa de Banyuls-sur-Mer, as uvas estavam quase maduras naquele 25 de setembro, quando chega, vindo das  encostas dos Pirineus, o pequeno grupo que tenta alcançar a fronteira com a Espanha. Walter Benjamin, colado à pasta de couro, vela por seu manuscrito – mais importante do que ele próprio, como explica aos companheiros. Tratava-se, provavelmente, de “Teses sobre o conceito de história”, o testamento filosófico de um  judeu alemão sobre a derrocada final do que ainda restava do mito de uma Europa iluminista. A disciplina do andarilho cardíaco vacila: o corpo, exausto pelo esforço da escalada, será amparado pelos companheiros. Sua vida, nesse momento, começa a ganhar a forma final de uma alegoria da catástrofe. Benjamin transmuta-se no Angelus Novus do pequeno quadro de Paul Klee, que o acompanhava em sua errância pela Europa agonizante. Penso no que escreveu sobre a experiência de dor profunda despertada no corpo, ao evocar o esgotamento na escalada de uma montanha. Ao descer, escreve, as alterações físicas produzem um afrouxamento do tempo e, caminhando como em um sonho, no ritmo da descida que não pode parar, percebe que seu corpo “se tornou um caleidoscópio que, a cada passo, lhe apresenta figuras cambiantes da verdade”. Que sucessão de imagens da monstruosidade irracional, que se prenunciava i

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