O ignoródio ao gozo do outro

O ignoródio ao gozo do outro
O que é visado pelo ódio como expressão da intolerância à diferença é o gozo outro que deve ser varrido (Arte Andreia Freire/Revista Cult)
  Estamos vivendo um tempo de incitação ao ódio e à violência. Esse tempo não começou ontem. Ele é velho como o mundo. A diferença dos tempos atuais para os velhos tempos de sempre é que há hoje um discurso legitimador do ódio e da violência que apresenta uma sinistra evolução do mal dirigido ao outro: o mal é autorizado, banalizado e em seguida legalizado. E a intolerância ao diferente não é excepcional, e sim regra. O ódio – que pode se expressar do xingamento ao linchamento, do tapa ao assassinato – está ligado à estrutura subjetiva e social da relação do sujeito com o outro como diferente e a sua forma de gozar.  O tratamento do ódio pode ir em duas direções: a da inclusão ou da exclusão do outro nos laços sociais que constituem a pólis, cidade dos discursos. Lacan detectou o ódio presente desde o estádio do espelho formador do eu, mostrando que o eu se constitui sempre acoplado ao outro, que é o eu-ideal que o sujeito projeta em seus semelhantes com os quais vive se comparando e rivalizando. O eu nunca vem sozinho, ele é geminado ao eu-ideal visto como o outro ameaçador. Esse outro é portanto igual e rival, pois compete com o sujeito por um lugar ao sol no desejo do outro. Competição imaginária, dentro da lógica “você ou eu” numa luta de puro prestígio, como qualificou Lacan, comandada pela pulsão de morte. É o raciocínio da exclusão do outro por ele ter tomado o meu lugar – justificativa, por exemplo, para expulsar o estrangeiro que veio ocupar o lugar do nativo da terra. “O médico cubano veio ti

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