“O ideal de branqueamento está no inconsciente brasileiro”, diz Kabengele Munanga

“O ideal de branqueamento está no inconsciente brasileiro”, diz Kabengele Munanga
(Ilustração: Fernando Saraiva)
  O antropólogo Kabengele Munanga, nascido no Congo Belga em 1940, é uma das mais importantes referências nos estudos sobre negros, negritude e mestiçagem no Brasil. Aos 82 anos, o professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) tem seu pensamento debatido em Negritudes: diálogos com o pensamento de Kabengele Munanga (Autêntica, 2022). Nesta conversa com a Cult, Munanga relembra sua formação no contexto colonial congolês e discute como a ideologia da mestiçagem dificultou a afirmação de uma identidade negra no Brasil. Como os anos de formação no Congo Belga, ainda sob o jugo colonial, moldaram o seu pensamento? Sou um ex-colonizado. Nasci em plena colonização belga, em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial. A formação estava inteiramente nas mãos dos missionários católicos, que tinham o monopólio de uma educação que começava sempre pela evangelização, para mostrar que os africanos não tinham Deus. Aonde chegava o colonizador, chegava o padre com a Bíblia. Era uma educação segregada, de péssima qualidade para os colonizados. Em casa, eu falava a língua materna. Depois do primeiro ano de escola primária, se conheciam as noções da língua francesa, com os conceitos que não faziam parte da nossa língua materna, da nossa cultura e pensamento. O primeiro prêmio que recebi como aluno da escola primária foi memorizando o catecismo, memorizando o texto da Bíblia, para mostrar que era um bom aluno. Era só aceitar, memorizar e reproduzir – um processo de alienação para mostrar que os africanos eram inferiores.

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