O herói gracioso

O herói gracioso
por Alcir Pécora Aproveito a coluna deste mês para tirar um respiro do imediatamente atual e rever o contemporâneo com olhos mais complexos a partir de um livro que não hesito em chamar de eterno. Talvez o leitor não o conheça e, se então se sentir curioso e se mover a lê-lo, estou certo de que nunca mais poderá se esquecer dele. Trata-se de O Cortesão, de Baldassare Castiglione (Mantova, 1478-Toledo, 1529) . Antes de receber a sua primeira edição, em 1528, na oficina do célebre Aldo Manuccio, teve ao menos três redações, nos períodos de 1506-1516, 1520 e 1521-1524. E, após ter alguma familiaridade com ele, percebe-se logo que não há frase nele que não tenha sido bem pesada. Não apenas por pruridos de escritor exigente: Castiglione, como secretário da corte de condottieri como os Montefeltro e Della Rovere e depois como comissário papal, estava obrigado a minuciosos cuidados diplomáticos. O certo é que Il Libro del Cortegiano se tornou o modelo dos novos tratados de civilidade de corte, no início do período moderno. Estabeleceu um código da razão moderna no âmbito de um complexo sistema de “maneira” ou de “etiqueta” que logo foi imitado em toda a Europa. Portugal também produziu a sua emulação dele com Corte na Aldeia (1619), de Francisco Rodrigues Lobo (1573-1621). O Cortesão adota a forma de um diálogo – durante quatro noites de março de 1506, em Urbino – entre algumas senhoras e gentis-homens do palácio, aos quais se juntou parte da escolta do papa Júlio II, o qual passava pela cidade após a expedição militar em

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