O falo negativo

O falo negativo
Um dos afrescos que representam o desvelamento do falo, na vila dos Mistérios, em Pompeia (Wellcome Collection)
  Na longa e tensa história entre psicanálise lacaniana e feminismo, o debate sobre conceitos – que compõe a cartografia do complexo de Édipo – ainda é a interlocução mais evidente. Diferença sexual, castração, lei simbólica e, sobretudo, falo. Sua suposta herança masculinista seria problemática se ele for compreendido como elemento organizador central de toda sexualidade. Se falo é associado a poder, e se sua imagem é vinculada ao pênis, isso faria do homem o soberano legítimo. Ter o órgão sexual valorizado funcionaria como um título de propriedade que o autorizaria a subjugar o sexo oposto. Mas essa deliberação seria tão óbvia assim? Não seria uma condenação do falo rápida demais? Ou existiriam outras versões do falo a contestarem o patriarcado? A resposta deriva do que se entende por falo e sua função. Como afirma Jane Gallop, eminente voz do feminismo: “A questão a respeito da posição ideológica de Lacan – falocrata ou feminista – depende em grande parte do significado que se atribui ao falo”. Desde o princípio, os feminismos delatam o caráter falocêntrico de Freud, presumido mantenedor da subordinação da mulher a partir da pressuposição de que a diferença anatômica prescrevia a ela menor valor e inferioridade de condições quando comparada ao homem. Segundo Hélène Cixous, a diferença sexual seria hierarquizada, e o homem, detendor do falo, só existiria conforme submetesse seu oposto. Ademais, a mulher irrevogavelmente padeceria da inveja do pênis, mesmo tendo atingido o que se convencionava por

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