O Brasil é uma forma de desaparecimento
No Brasil, há uma anestesia da cultura como uma das causas necessárias da paralisia da imaginação política (Arte Andreia Freire)
Em 1898, o compositor brasileiro Alberto Nepomuceno apresentou Artemis, uma das raras óperas escritas em português, com libreto de Coelho Neto. A peça trazia a história de Helio, um escultor obcecado por produzir uma obra, a saber, a escultura da deusa Artemis. Em sua obsessão, Helio procura dar vida à estátua matando sua própria filha a fim de transplantar o coração dela para sua estátua. A música de Nepomuceno revelava uma interpretação singular do wagnerianismo reinante à época, com recursos expressivos consistentes e incursões vanguardistas pontuais. Ou seja, era obra de um compositor maduro e consciente.
Era clara a relação da obra com o contexto nacional de isolamento cultural. Fazer música clássica em um país como o Brasil do final do século 19 só podia ser ideia fixa de quem parece obcecado por um universo que nos retira das relações concretas, que anula os vínculos ao nosso redor. Não seria o artista brasileiro um Helio que confunde criação com delírio? Alguém que lida com formas mortas que não poderão vir à vida nem sequer através da violência mais brutal? A obra de Nepomuceno era, assim, a sua maneira, uma reflexão sobre a vida nacional.
Estas questões que Nepomuceno fazia ressoar em sua obra receberam uma resposta irônica através do destino de sua própria ópera. Depois de algumas récitas no início do século 20, ela simplesmente desapareceu de qualquer programa até ser encenada, décadas depois, em 2014 no Theatro São Pedro. Mesmo na ocasião em que ela recebeu uma bela montagem do diretor de teatro
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