O bardo Ubaldo

O bardo Ubaldo
Ao final da coluna da edição passada, em que descrevi a saga do manuscrito de Os 120 dias de Sodoma, do marquês de Sade, prometi que retomaria o assunto neste mês. Fica para setembro, pois a morte de João Ubaldo Ribeiro, em 18 de julho, impõe a homenagem ao autor de dois livros fundamentais da literatura brasileira: Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro. Antes, vale lembrar que ele esteve presente num marco histórico da CULT: em maio de 2002, quando a revista passou a ser dirigida por Daysi Bregantini, o primeiro autor entrevistado na nova fase da CULT foi João Ubaldo, que acabava de lançar Diário do farol. Na entrevista, aliás, perguntado por Luís Antônio Giron se fora assombrado pelo diabo ao escrever esse romance – em que um ex-padre licencioso destila as memórias de suas perversões –, João Ubaldo disparou: “O diabo não me prestigia muito. Ou acha que já estou no bolso ou sou mesmo inexpugnável”. Inexpugnável talvez seja o termo para descrever a obra desse escritor que adotava a uma postura anti-intelectual e que flertou com a literatura de entretenimento – mas que nem assim conseguiu rechaçar o olhar de críticos que viram nele um inventor pertencente à linhagem de Guimarães Rosa e Paulo Leminski. João Ubaldo fazia pouco, por exemplo, das análises que viam em Viva o povo brasileiro uma alegoria da história do Brasil, preferindo dizer, em tom de galhofa, que escrevera esse romance de proporções épicas em resposta ao desafio de fazer um livro que parasse em pé – o que de fato ocorre, já que estamos falando de um tijo

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