Notas sobre a morte do mulato

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Notas sobre a morte do mulato
  Poucos fatos sociais evidenciam com tanta clareza as mudanças na constituição e o delineamento das fronteiras raciais no Brasil contemporâneo que o progressivo desuso da categoria mulato como forma de classificação social. Com efeito, os pardos de hoje não são como os mulatos de antigamente. A categorização perdeu muito daquela conotação de mediação cultural e biológica entre mundos diversos, de “mestiçagem” como intermediação social entre os nominados “brancos” e “pretos”, ponto de conciliação e fusão dos extremos, espécie de não lugar racial sempre a escorregar de classificações rígidas e significados fixos. Assim, enquanto os mulatos de ontem podiam ser definidos como um grupo social específico, intermediário, nem preto, nem branco, os usos políticos e estatais correntes da categoria pardo tendem enfatizar, não sem polêmica, a origem e o pertencimento afrodescendente e o status socioeconômico semelhante aos classificados como pretos. À diferença de como era num passado nem tão distante, “mulatos” e “pardos” já não são termos plenamente intercambiáveis na cultura brasileira. Esse sutil deslocamento entre os velhos significados de mulato e o campo de disputa aberto em torno da categoria pardo é um ponto de partida para interrogar quais ideologias organizam os sentidos culturais de “raça” e “cor” no Brasil contemporâneo. Em primeiro lugar, porque a categoria “mulato” designava um grupo social específico e diferenciado, malgrado a largueza de fronteiras sociais e simbólicas. Em segundo,

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