Privado: Notas preliminares a Drummond

Privado: Notas preliminares a Drummond
Carlos Drummond de Andrade (Reprodução)
João Alexandre Barbosa Para encerrar estas minhas notas preliminares sobre Drummond iniciadas na CULT 58, passo a considerar o segundo poema mencionado inicialmente. Trata-se de "Nudez", de A vida passada a limpo, livro que, reunindo poemas de 1954 a 1958, foi incluído em Poemas, de 1959. Esse poema, mais ainda do que o anterior, "A flor e a náusea", aponta para uma verdadeira teoria da comunicação poética por onde aquele "eu todo retorcido" busca encontrar os termos (ainda) possíveis de uma lírica fundada na negatividade da poesia moderna. Assim já nos cinco primeiros versos da primeira estrofe: "Não cantarei amores que não tenho,/ e, quando tive, nunca celebrei./ Não cantarei o riso que não rira/ e, que se risse, ofertaria a pobres./ Minha matéria é o nada." Vê-se, desse modo, como a celebração é negada, assim como os seus possíveis motivos. No entanto, se, na primeira negativa, a recusa do tópico se faz por intermédio de um passado que se pretende poético apenas em relação ao presente (o amor só teria existência, para o poema, por sua inexistência efetiva), na segunda, o canto se oferece como uma possibilidade desvinculada da poesia: a sua destinação tem já um alvo certo. Ultrapassa o espaço poético e realiza-se como uma possibilidade da práxis. Entre o silêncio da experiência vivida (o amor) e a comunicação da experiência possível (o riso, a alegria), o espaço é preenchido pelo "nada" do quinto verso. Mas o que é esse "nada"? Uma matéria que se afirma entre o silêncio e a comunicação: o poema. Por outro lado, todavia

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