A noção de autor em Barthes e no Cahiers du cinéma
Barthes, no papel do romancista inglês William Thackeray no filme 'As irmãs Brontë', de André (Téchiné/Divulgação)
O diálogo entre a escola Barthes e a escola dos Cahiers du cinéma é também articulado por certo parentesco entre os conceitos de “écriture” e “politique des auteurs”. De fato, ambos comportam redefinições drásticas dos objetos a que se aplicam, igualmente interrogando o que são (o que é a literatura?, o que é o cinema?) e igualmente respondendo que são objetos de linguagem e que o são para artífices desfuncionais. Assim, para Barthes, o escritor moderno está cortado do circuito da comunicação burguesa, não é um executor ou um continuador da literatura, que sente como exaurida. A “escritura” barthesiana é a marca dessa exaustão, é um enclave de linguagem própria e solitária. Daí, aliás, “escrita” ser má tradução para “écriture”, porque refere uma prática comunicativa corriqueira, quando a “escritura” barthesiana cifra a gravidade dessa situação, com sua significação entre religiosa e cartorial. O ensaio de Barthes “A morte do autor” (1968), em que se diz que o autor é um ser que “sobrevive apenas nos manuais de literatura” e que “o império do Autor foi abalado”, só momentânea e aparentemente o contradiz. Pois Barthes segue aí dizendo que o que sobrevive a esse abalo é a escritura e que um escritor como Proust é “epicamente” o sujeito em busca de sua própria escritura.
Também a “politique des auteurs” repele o diretor funcional ou funcionário, submetido ao crivo externo, que nada mais seria que uma peça numa engrenagem. Deste prisma, os filmes têm assinatura, são chancelados
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »