No coração da malandragem
O jornalista e escritor paulista João Antônio (Arquivo de família / Divulgação)
João Antônio passou a vida atrás de seus leitores. Em entrevistas, dizia que desejava ter no leitor um parceiro – parceiro, talvez, como os da sinuca, do samba, do chorinho, da boemia, da malandragem. Malagueta, Perus e Bacanaço (1963) e Leão de Chácara (1975) tornaram João Antônio um best-seller. Nos anos 70, os dois livros frequentaram listas de mais vendidos, e o sucesso parecia indicar que o autor havia realizado, afinal, o encontro e a parceria com os leitores.
Mas as últimas décadas de carreira literária caminharam no sentido oposto. Nos anos 80 e 90, depois de outros dois grandes volumes de contos, Dedo-duro (1982) e Abraçado ao Meu Rancor (1986), o escritor deixou de vender tanto, as edições de seus livros ficaram mais desleixadas e os textos ficcionais do autor se tornaram escassos.
Sua trajetória de autor consagrado e respeitado sofreu, nas décadas finais de existência, um desbotamento progressivo. A decisão do autor de se refugiar no “falso mirante” de Copacabana, como ele próprio chamava o apartamento onde morava no Rio, e as circunstância de sua morte em 1996 (o corpo foi encontrado muitos dias depois do falecimento) deram contornos melancólicos aos últimos anos de João Antônio.
No entanto, sua escrita íntima – as inúmeras cartas trocadas entre ele e seus correspondentes mais fiéis – indica que os derradeiros anos foram de preservação da consciência crítica. Os textos finais também expressam os sentimentos contraditórios de quem se manteve fiel a sua origem e sentia-se, ao mesmo tempo, dilacerado pela culp
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »