Política da negloptência ou administração do não ver
cenas do filme Zona de interesse (2023) (divulgação/A24)
A verdade sobre a suplantação do “ter” sobre o “ser” na era capitalista, na qual o fetiche da mercadoria define o sentido da vida e do desejo, se tornou um lugar-comum. Contudo, sob o regime ótico-político da sociedade do espetáculo de nossa época, também o “ter” é suplantado. É no “ver” que o desejo se concentra sob o único pagamento que um cidadão pode ter no tempo de sua servidão estética: o fetiche – ele mesmo visual – que promete tudo compensar diante de todas as frustrações da vida. Já não precisamos nem ser, nem ter, mas apenas ver, e, do lado de quem sabe o valor da imagem como capital, é possível desejar ou se esforçar por “parecer”, algo importante tendo em conta que ser visto causa efeitos de poder, sejam eles econômicos ou políticos, de qualquer maneira, sempre estéticos.
A vida como um todo pode ser sofrida e miserável, enquanto o acesso ao audiovisual é a nova promessa de felicidade. Da TV aberta que nunca deixou de ser indústria produtora de mercadorias para esfomeados e glutões óticos, ou do YouTube que nunca quis ser TV, mas segue administrando as linhas da cultura audiovisual, até a selfie que alguém faz sozinho procurando o melhor ângulo para convencer o olhar dos outros, uma ontologia televisual se espalha pelo mundo da vida reduzido ao cotidiano televisivo. Entre vitrines e monitores, em perfis de redes sociais, surge a profissão do influencer, que nada mais é do que a profissão possível na era do valor imagético pelo qual alguém com capital visual ou “televisivo”, ou seja, al
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