A necessidade da guerra e o adicional de vítimas psíquicas
“Dia 9”, da série “Abstinência de benzodiazepina” (2006), de Bryan Lewis Saunders. Nesta série, o artista registra em autorretratos diários como foi parar de tomar o ansiolítico
Sigmund Freud escreveu seu trabalho sobre neuroses de guerra em 1919, reformulando sua teoria psicanalítica do trauma, logo depois da Primeira Guerra Mundial. “As neuroses de guerra são apenas neuroses traumáticas, que, como sabemos, ocorrem em tempos de paz também”, registrou em “Introdução à psicanálise e às neuroses de guerra”(1919). Chama a atenção do clínico o fato de que, nessa situação, o sujeito sonhe recorrentemente que está diante da mesma situação que teria enfrentado no front. Ou seja, o trauma suspende o tempo, faz com que as coisas se repitam – como se não tivessem propriamente acontecido – e estejam prestes a acontecer “de novo”.
Fazer um balanço dos prejuízos psíquicos trazidos pela experiência da Covid-19 entre 2019 e 2021 envolve pensar uma situação híbrida, entre guerra e paz, vivida pelo Brasil nesse período. Os sonhos traumáticos se repetiram, assim como as síndromes fóbicas, depressivas e de ansiedade. Desde os primeiros momentos, os números sugeriam um crescimento em torno de 70% a 90%. Entre 98 países, o Brasil ficou em último lugar no enfrentamento da pandemia, considerando total de mortos, uso de vacinas, políticas públicas e testagem, segundo reportagem da BBC. Curiosamente o país ficou em primeiro quando se considera a preocupação com a saúde mental; mesma posição quando se trata da incidência geral de depressão e ansiedade.
Levamos em conta que uma situação nunca é inteiramente traumática por si só. Encontros penosos e infortúnios de toda espécie podem gerar sofrime
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