Não sei o que é mal
Edíficio bombardeado na Ucrânia Ales Ustinov/Pexels
“Nas criptas de insondável amargura
Onde o Destino já me relegou;
Onde um róseo raio jamais entrou;
Onde, só com a Noite, hospedeira obscura,
Sou como um pintor que um Deus zombeteiro
Condena a pintar sobre a escuridão ”
Charles Baudelaire, As flores do Mal
“Sobre o que não se pode falar…”
O mal é um assunto difícil. Todos reconhecem isso. Como outros assuntos “difíceis”, o mal pode ser tratado de perspectivas e abordagens diferentes e desiguais. É possível, por exemplo, falar do mal de um ponto de vista teológico ou religioso, moral e metafísico – acrescente-se o fato de que as diferentes filosofias e religiões podem apresentar ideias em franco desacordo sobre o mal ou sobre sua existência.
Esse é um assunto difícil também porque toca em um lado sombrio da natureza humana. Immanuel Kant, em seu A religião nos limites da simples razão (1793), fala de um “mal radical” como uma tendência fundamental, presente em todos os seres humanos, de priorizar os interesses pessoais e as inclinações egoístas sobre as leis morais. Esse mal é “radical” porque está enraizado na disposição moral do indivíduo e afeta a base de suas escolhas e ações.
Mas não são apenas essas as razões que tornam o mal um tema difícil. Muitos autores na literatura e na filosofia, mas também pessoas que sofreram nas mãos de um poder cruel e devastador, assumem que a realidade do mal se expressa em uma experiência para a qual a palavra falta, a linguagem paralisa. Para eles, há somente um rumor quase inaudível: sobre o mal, não h
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