Não, não vão nos matar agora
Edição do mês
Professora e alunas do sétimo ano na Escola José Pedro Varela, no Rio de Janeiro, em 1923 (Reprodução/Secretaria De Educação Do Rj)
Jota Mombaça, pessoa não binária, negra e artista interdisciplinar, grita em seu livro Não vão nos matar agora (2019) que “o mundo é o meu trauma. Eu sou maior que meu trauma (?). Porque se o mundo, que é o meu trauma, não para de fazer seu trabalho, então ser maior que o mundo é meu contratrabalho”. Mombaça denuncia que a violência ordena as desigualdades conforme as conhecemos e que os princípios de diferenciação raça, classe, gênero, orientação sexual, religião, entre outros, sustentam políticas de normalização e de extermínio decretando quais corpos podem ser subjugados pela violência social institucionalizada, cabendo às pessoas negras, pobres e dissidentes de gênero serem maiores do que a própria violência.
A poética de Mombaça vai ao encontro do pensamento de Achille Mbembe, que escancara que o poder político se organiza e se manifesta na medida em que decide quem pode viver e quem deve morrer, determinando, assim, quais vidas são descartáveis. O foco da produção de Mombaça está na denúncia do controle da morte e na gestão da precariedade vivenciada por populações dissidentes, através de políticas de exclusão, abandono estatal e racismo estrutural. Assim, grupos são expostos à violência extrema e à destruição em espaços predeterminados como territórios ocupados, prisões, favelas, entre outros. Trata-se, nas palavras de Mbembe, de “vidas matáveis”.
Afirmo que a escola, enquanto espaço institucionalizado e passível de abandono social, contribui para a marginalização desses corpos. bell hooks,
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