Mulheres e…? Mulheres negras, bem viver e saúde

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Mulheres e…? Mulheres negras, bem viver e saúde
10ª Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro, em Copacabana, em julho de 2024 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
  Aos sete anos, a curiosidade em conhecer o mundo me ajudou a aprender a ler palavras e partituras, e estas me levaram a espaços que o corpo não alcançava. Sentia-me ainda mais viajante quando, além de ler, escrevia ou tocava. Em mim, são indissociáveis esses dois campos, e ainda hoje é pela música que organizo ideias. Enquanto escrevo este texto, estranho o silêncio da biblioteca pública e saco o fone de ouvido. Agora sim, o pensamento flui, balanço na cadeira e me sinto instigada a dançar reflexões sobre bem viver e saúde, a partir de mulheres negras. Os convites para produzir textos e ministrar palestras que costumo receber encomendam o tema de racismo, violência contra mulheres negras e impactos na saúde. Esses temas desafinam nos meus ouvidos. Primeiro porque é aguda demais (na verdade, crônica) a questão da violência racial e de gênero sobre nós, mulheres negras. Aguda a ponto de angustiar e ameaçar a esperança. Desafinam também porque, desde 2010, escolho pesquisar saúde, e assim foi no mestrado, no doutorado, e tem sido nos dois pós-doutorados; apesar disso, muitas vezes sou convidada a falar sobre violência e morte. O problema não se limita aos convites. É histórica a insistência monotemática de associar violência a mulheres negras – em todos os sentidos que essa frase pode ter. O tema nesta revista, ao tratar de mulheres, violência sexual e de gênero, ilustra essa relação simbólica que, infelizmente, ainda não tem previsão de término. Mentalidades coloniais rançosas insistem em duradouras políticas

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