Morte nua
Destruição em Gaza após ataque israelense (Foto: Naaman Omar/Apaimages)
Em Massa e poder (1960), Elias Canetti faz uma afirmação que, diante das guerras que não cessam de ser produzidas e reproduzidas, merece toda a nossa atenção. O escritor de língua alemã e judeu sefardita laureado em 1961 com o Prêmio Nobel diz: “Na guerra, o que interessa é matar”. Talvez a palavra guerra interpele primeiro quem lê o enunciado, obrigando a pensar em seu conceito estrito, no instante em que um Estado declara sua inimizade a outro Estado e eles entram em conflito armado. Nesse caso, a palavra vale ainda para o momento em que grupos coesos em torno de algum propósito entram em guerra civil dentro de um país. Já em um sentido lato, guerra se refere à ação destrutiva contra uma pessoa ou um grupo, como em “guerra contra as mulheres”, tal como a emprega Rita Segato. Esse sentido também vale para uma causa, como em “guerra às drogas” ou “guerra ao terror”, dentro de uma retórica ideológica. “Guerra cultural” e “guerra híbrida” se tornaram expressões comuns nos últimos tempos com o avanço da indústria da desinformação e do psicopoder. É interessante lembrar que guerra é uma palavra empregada também em sentido coloquial, como uma figura de linguagem ligada a animosidades profundas que implicam ações de destruição.
O enunciado de Canetti “In Kriegen geht es ums Töten” pode ainda ser traduzido por “A guerra é para matar”, “Na guerra, o que importa é matar”, “Na guerra, trata-se de matar”, ou ainda, no português atravessado pelo inglês que vem sendo usado abundantemente em nossos di
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